sábado, 30 de maio de 2015

VANDALISMO




Por JosenilsonDoddy

A cada dia, direitos da classe trabalhadora são retirados pela corja que diz representá-los. Além de impor o seu modelo de sociedade totalmente injusto, querem calar a voz do povo que vai às ruas reivindicar aquilo que é negado e que é de direito.Através do poder midiático manipulador, que reproduz à toda população os interesses do grande empresariado como se fossem interesses da população inteira, distorcem a verdade dos fatos e tarjam o povo que luta por seus direitos de vândalos.

Atos bárbaros são cometidos pelo Estado e pela classe burguesa todos os dias. Os rastros da destruição estão presentes em todos os locais, do meio ambiente à vida humana. Os recursos naturais estão degradados devido à tanta exploração em prol do lucro do capital e de sua pequenina casta de beneficiários.

Os trabalhadores continuam sendo escravizados, mesmo após décadas de decretada a Lei Áurea. Comunidades tradicionais são excluídas do mapa à cada entrada em cena do agronegócio, que dizem ser o tal “progresso”. Diversas pessoas não têm onde morar, o que comer; saúde e educação então nem se fala. A precariedade destes é algo alarmante. O mais interessante é que isso não é considerado pela mídia vandalismo. Já o povo, nas ruas, defendendo o que é seu de direito, a mídia retrata como baderneiros e vândalos.

O discurso repassado pela mídia é que sejamos pacíficos, que, se formos às ruas protestar, o façamos de forma educada – a não ser se for para exigir impeachment. Porém, quando o poder opressor do Estado chega com suas máquinas destruindo o meio ambiente e as comunidades tradicionais e, com muita violência policial, expulsam os moradores que ali vivem, em favor do então “progresso”, está distante de qualquer pacificidade. É puro vandalismo esse lado da vida social que a mídia insiste em não retratar.

Muitas coisas podem ser resolvidas através do diálogo, porém, o mesmo só existe quando as duas partes estão no mesmo patamar, com direitos iguais garantidos. Assim, quando o Estado chega impondo as regras e o povo só tem o direito de dizer sim, jamais se existiu diálogo aí, mas opressão e autoritarismo.

A classe burguesa usa exacerbadamente de seu poder opressor contra a classe trabalhadora,ditando as regras e retratando isto como diálogo. O povo tem que ser ouvido, ter voz e vez e, para que isto aconteça, é necessário se tomar todas as medidas populares cabíveis dentro de um processo de luta.
O povo tem que ir às ruas, sim, reivindicar seus direitos e fazer garantir a vida digna para todos e todas, pois é somente através da luta e da organização que construiremos uma sociedade igual e justa. Que a classe dominante, seu Estado e sua mídia tremam diante desta real possibilidade.



sexta-feira, 22 de maio de 2015

São Romero da América Latina!



Na sala do formador, em 1987, encontrava-se pendurado um quadro com a imagem de um arcebispo que ele fazia questão de declarar santo. É São Oscar Romero, mártir, dizia. Durante todo o período de formação, no postulantado, enquanto Mateus fora formador, Romero fez parte da nossa caminhada, não só um quadro pendurado na parede, mas sua vida, história e espiritualidade. São Romero da América Latina!

Ao longo desses anos tive a graça de nutrir minha vocação e missão a partir da experiência de Romero, pois as Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, onde nasci vocacionalmente, sempre se nutriram da memória dos mártires da caminhada. O arcebispo Romero foi assassinado porque  teve a coragem de falar a incômoda verdade, inclusive ordenando aos Estados Unidos que deixasse de apoiar a repressão do Governo Salvadorenho. 

Romero entendeu qual o seu papel de pastor, sendo capaz de encarnar-se na vida do povo salvadorenho. Indo na contra-mão, com Jesus, lutando contra o sistema opressor. Para isso teve que deixar para traz os privilégios e as honrarias que os poderosos proporcionavam. Preferiu banquetear-se com os pobres a aceitar o banquete de Herodes. Eles, os pobres, eram para Romero os bem-aventurados."Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado", dizia Romero.

A opção de Romero, claramente em favor dos pobres, não foi bem aceita nem mesmo pela Igreja, que olhava não como sendo uma opção cristã, mas comunista e marxista. A sua própria beatificação, agora marcada para 23 de maio de 2015, ficou durante anos sem ser aprovada, por causa da sua atuação pastoral. Para os papas anteriores, mas política e social do que cristã. Aos olhos do Papa Francisco, Romero é mártir pela fé. A fé levou Romero a assumir a causa da justiça social.

Aquele que fora aplaudido pelas elites ao ser nomeado arcebispo de San Salvador em 1977, foi assassinado em 1980 por ser considerado subversivo. "Ainda quando nos chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os adjetivos que se dirigem a nós, sabemos que não fazemos nada mais do que anunciar o testemunho subversivo das bem aventuranças, que proclamam bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem", proclamou Romero em 1978 em uma de suas homilias.

Para o povo salvadorenho, para as Comunidades Eclesiais de Base, para os que comungam da Teologia da Libertação, Romero já é mártir e santo, independente da oficialização romana. Mas o que fez o Papa Francisco, acredito, a semelhança do que fez Deus Pai ao ressuscitar o Filho, pelo decreto de beatificação de Romero, foi desautorizar os grandes e poderosos que o assassinaram. Romero tinha razão ao dizer: "o Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte."

terça-feira, 12 de maio de 2015

CAPITALISMO, BARBÁRIE E O TEMOR À LIBERDADE



Fortaleza, 12 de maio de 2015.
Por Thales Emmanuel*

Em 1867, com a publicação do primeiro volume de O Capital, é revelada ao mundo, cientificamente, a lógica de funcionamento da sociedade capitalista. Karl Marx, autor da obra, não criou a luta de classes nem a mais-valia. De fato, elas só puderam ser desveladas porque já existiam.
Em 1916, Rosa Luxemburgo, entregue à luta da classe trabalhadora e em permanente análise das mudanças sociais em curso, sentencia: “Socialismo ou barbárie.” Para a “Águia Polonesa”, o avanço da ordem social do capital representa, na acepção concreta do termo, o despencar no abismo da desumanização.
Conforme Marx, o capital se acumula quando se apropria da parte do trabalho que, retida pelo capitalista, não retorna ao/a trabalhador/a quando do pagamento do salário; concentra-se quando esse mesmo trabalho não pago é reinvestido em mais capital; e se centraliza quando se funde em grandes conglomerados de capitais, deixando para trás os virtuais princípios da livre concorrência.
Essa tríade, que varre tudo o que se é produzido com as mãos de muitos, para os bolsos de poucos, está na essência de impactos alarmantes verificados atualmente.
Com “ricos cada vez mais ricos, às custas de pobres, cada vez mais pobres”, 1% da população passa a deter mais riqueza que os 99% restantes.
O desemprego estrutural começa a atingir centenas de milhões, o combate à pobreza se transfere dolosa e confessadamente para o cínico expediente de combate à extrema pobreza, uma quantidade crescente de gente entra para o depósito dos “descartáveis”.
Enquanto isso, o deus maior dessa sociedade, o onipotente Mercado, segue arregimentando políticos, meios de comunicação e promovendo guerras para descartar os “descartáveis”. Qualquer crítica mais contundente à sua onipresente lógica de funcionamento redunda em criminalização das dissonâncias. O Papa é taxado de anti-Cristo e o indígena da Amazônia é crucificado com balas envenenadas por glifosato, princípio ativo de agrotóxicos associados ao uso de transgênicos, e principal responsável, segundo Stephanie Seneff, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, por tornar autista, daqui a dez anos, uma em cada duas crianças do mundo.  
O Mercado não é uma simples troca de produtos ou uma mera operação de compra e venda. Sua fluidez, identificada propositalmente pela mídia dos que dominam como “liberdade democrática”, representa o dinamismo da acumulação, o movimento contínuo exigido pela concentração e a alma prometida a centralização, para que paguem o preço os quase um bilhão de condenados à morte por inanição.
O Mercado, que, no Haiti, logo após o último grande terremoto, em 2010, enquanto Cuba se voluntariava com mais médicos/as, fez despejar dos Estados Unidos e da Monsanto sementes geneticamente modificadas, aproveitando-se da escassez generalizada dos mais de um milhão de desabrigados/as.
Em um dos templos consagrados a Ele, a bolsa de valores da NASDAQ, em Nova Iorque, negocia-se ações do maior sistema prisional do planeta, o dos Estados unidos, com aproximadamente 2,3 milhões de detentos. São os “descartáveis” servindo a reciclagem do capital.
Nessa perspectiva, a redução da maioridade penal no Brasil pode atrair investimentos futuros e ajudar o país a sair da crise. Aí vem também a terceirização; o Código Florestal, que já se foi; a contra-reforma política...
Tem a migração de africanos para a Europa, fugindo das mazelas que a mesma Europa há séculos vem tratando de disseminar em seus territórios. Na Assembleia Geral da ONU, em dezembro de 2014, com a ascensão de nazistas ao poder na Ucrânia, a Rússia solicitou resolução condenando a glorificação da ideologia nazista. Os países da União Européia se abstiveram e Estados Unidos, Ucrânia e Canadá votaram contra.  
"A humanidade teme a liberdade", disse outro dia o Papa Francisco. Arriscaria a concordar com essa afirmação, mas somente em parte. Por que só em parte? Porque falta heterogeneizar o que se é heterogêneo para, assim, poder se aproximar da verdade. Falta registrar e identificar que uns se colocam mesmo frontalmente contra a liberdade e que outros/as, destemidamente, como fora a própria Rosa e Marx, doam-se cotidianamente pela sua construção.

*Thales Emmanuel é militante do Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e da Organização Popular (OPA).

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Comuna de Aracati rompe com a lógica do Capital especulativo


A ocupação  
Às 5h00 da manhã deste domingo, 03 , cerca de 300 famílias sem moradia ocuparam um terreno urbano em Aracati. O terreno está localizado na Avenida Dragão do Mar e antigamente era sede de uma grande cerâmica, hoje abandonada. A ocupação, chamada de Comuna, faz parte, segundo Paulo Henrique Campos, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, de uma estratégia do movimento de repensar a cidade a partir da ótica dos que são invisíveis pela lógica do capital. Há uma grande especulação imobiliária urbana e trata-se do mesmo inimigo que está no campo. A comuna, diz Campos, nasceu em São Paulo e hoje se encontra em várias regiões do país. Aqui no Ceará, a primeira Comuna, 17 de abril, aconteceu em Fortaleza, no latifúndio da família Montenegro.
 

A negociação

  
Acampadas, as famílias começaram a se organizar, limpar o terreno, construir o barracão coletivo e a medir o espaço de suas barracas. Ao mesmo tempo, a coordenação formada pela Organização Populaar de Aracati - OPA e o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - MST, agilizava as negociações com os governos municipal e estadual. Enquanto isso, receberam por três vezes a visita da polícia militar, inclusive do Major querendo intermediar em favor do suposto dono do terreno. Na tarde de segunda-feira, 04, um canal de negociação foi aberto com o governo do estado, que sinalizou de forma positiva a construção das moradias. Elisângela Gomes, militante do MST, participou da negociação e disse que o secretário das cidades, Ivo Gomes, se comprometeu em incluir as moradias dentro do novo programa Minha Casa minha Vida do governo federal. Também, ainda segundo Elisângela, o secretário se comprometeu com a negociação do terreno.



O vandalismo do proprietário

Duas horas da manhã do dia 05 escutam-se os tiros e as redes indo ao chão. Era o proprietário do terreno com a sua milícia, cerca de 60 homens fortemente armados, colocando as famílias para fora sem mesmo terem o direito de tirarem os seus pertences. Muita coisa foi destruída e nos barracos atearam fogo. "Eles chegaram chamando a gente de vagabundos, torando as cordas da rede e atirando", afirmou dona Francisca, uma das famílias acampadas. Apavoradas, as famílias ligaram para o Major, na esperança de encontrarem proteção do Estado, mas, segundo os organizadores, grande foi a decepção quando chegaram as viaturas, pois nitidamente ficaram do lado de lá com as armas apontadas para os desabrigados.



A resistência
 

Mesmo com a repressão, as famílias continuaram acampadas na avenida, vendo amanhecer o dia. Às 8h30 da manhã estava marcada uma audiência com o prefeito de Aracati, Ivan Silvério. Na audiência, ficou acordado que a prefeitura irá começar o cadastro das famílias nessa sexta-feira, 08, também garantiu a doação de lonas, água e cestas básicas. Cantando "essa luta é nossa, essa luta é do povo e só lutando se constrói um Brasil novo", as famílias saíram em marcha e ocuparam o terreno que, segundo informações, pertence ao Departamento Estadual de Rodovias - DER, ao lado do Hospital Municipal Doutor Eduardo Dias. Para Josenilson Correia, militante da Organização Popular de Aracati, é extraordinária a força que vem do povo. Ele tem um poder que muitas vezes não sabe que tem. E esse é o papel das organizações: ajudar o povo a despertar e descobrir esse potencial para lutar pelos seus direitos, finaliza Correia..