A Comunidade do Cumbe
viveu nessa quarta, 12, um dia de terrorismo e vandalismo de Estado. Com o aval
da Juíza Ana Celina Monte Studart Gurgel Carneiro, "cidadã aracatiense",
mais de 20 policiais militares fortemente armados, com um aparato
desproporcional à ação, chegou à comunidade para destruir o barracão da
resistência e a criação de ostras dos pescadores.
Dizem que a justiça é
cega, mas pelo que vimos na comunidade do Cumbe, ela sabe muito bem o que faz,
para que faz e para quem faz. Como se pode alegar que uma criação de ostras
numa gamboa prejudica a criação de camarão ? O contrário sim, a criação de
camarão aos moldes que temos em Aracati, vem prejudicando o meio ambiente, as comunidades e as pessoas.
Com essa ação fica cada
vez mais comprovado que há uma grande distância entre o que diz a lei e como
ela se concretiza, ela não é para todos de forma igual. Em Aracati ela vem
sempre beneficiando os opressores do povo. "Fomos tratados como
bandidos", disse um pescador.
O que temos visto em
todos os cantos dessa nossa cidade é destruição. Lagos são aterrados, carnaúbas
são derrubadas, manguezais são devastados, águas são poluídas, e tudo isso com
a conivência da Semace, do Ibama e da Prefeitura. Daqui a pouco tempo e bem
pouco tempo estaremos vivendo num grande deserto. Na Comunidade da Ilha São
José apenas 12 das 33 famílias continuam resistindo e querendo permanecer no
seu espaço, as demais cederam aos caprichos do carcinicutor.
A ação policial no
Cumbe, ajuizada pela "justiça", na pessoa da juíza Ana Celina, foi de
uma atrocidade sem limites. Bombas de gás, balas de borracha, armamento pesado para
gente simples, trabalhadores e trabalhadoras, crianças, jovens, idosos e
mulheres grávidas. Cenas que ficarão nas lembranças e alimentarão a
resistência. "Vale passar por qualquer medo, quando se sabe por qual causa
se está lutando," disse uma das moradoras do Cumbe.
É uma luta de Davi
contra Golias ( 1Samuel 17, 41-51). São os Acazes e as Jezebeus ((1Reis 21,
1-27) de hoje querendo tomar os territórios e os espaços das comunidades. É o
capital querendo se apropriar indevidamente do que não é seu, visando sempre o
lucro e menos o bem estar das pessoas. "Vai chegar o ponto de querer pegar
um peixe para os filhos e não poder", desabafou um pescador em meio a
destruição física e psicológica.