segunda-feira, 23 de março de 2020

O FASCISMO


O fascismo é um movimento político produzido por elites capitalistas em momentos de profunda crise econômica e social, quando não mais vislumbram possibilidade, ou não têm capacidade, de resolvê-la 

O fascismo não é e não tem ideologia própria, mas usa ideologias autoritárias para dominar pelo medo físico, e o irracionalismo ao capturar as mentes pela confusão e ignorância produzidas. 

O Partido Fascista italiano nasceu gabando-se de que trouxe uma nova ordem revolucionária; mas foi financiado pelos mais conservadores entre os latifundiários que esperavam dele uma contra-revolução. 

Assim Umberto Eco fala do fascismo italiano, criado e dirigido por Mussolini. 

O fascismo usa e abusa do irracional e conservador para submeter a população alienada politicamente a uma “ideologia” também irracional. 

Quando a luta dos pobres e dos trabalhadores avança sobre o capital, as elites assumem o fascismo como ponta de lança de sua dominação. 

Como funciona a aproximação do fascista do público alvo 

Nas crises, as demandas e necessidades legítimas da sociedade, (como a insegurança, o desemprego, a falta de moradia, a quebra de tradições, etc.) o manipuladas e transformadas em culpas de um inimigo imaginário, ao mesmo tempo concreto e surreal.  

O fascista põe na boca da população através de repetições massivas e sistemáticas, mentiras que parecem ser verdades absolutas. Bandido bom é bandido morto, por exemplo, mas não diz quem é o bandido; numa sociedade multirracial e multicultural normalizam um estereótipo e transformam o diferente em inimigo. Assim o negro, a mulher, o homossexual, o comunista são transformados em perigosos inimigos da nação e do desenvolvimento e causas do desemprego, da corrupção e de todos os males reais que afligem a população. Quem não lembra dos kit gay, das mamadeiras de piroca? 

O que importa é dominação da sociedade de maneira controlada econômica e socialmente – politicamente, enfim! 

Por prof. Isaías Júnior, colaborador da OPA.

Paraíso Vendido



Fortim, município do Ceará, localizado a 132 km de Fortaleza, com 17 mil habitantes, tem uma beleza natural incrível, com dunas, falésias e praias belíssimas, além de ser local de encontro do rio Jaguaribe com o oceano Atlântico. Essa paisagem tem atraído bastante turistas, fato facilmente verificado pelas inúmeras mansões construídas e em construção à beira-mar, boa parte pertencente a estrangeiros. Também na praia, sobre dunas e falésias, não é difícil enxergar as bases de uma obra que, segundo moradores locais, pretende dar lugar a um hotel de luxo. “Um paraíso”, diriam os mais precipitados. “Mas para quem?”, questionariam os mais atentos.
Para as famílias nativas de pescadores, é costume e necessidade construírem pequenas palhoças que servem de apoio ao trabalho no mar, também utilizadas em momentos de lazer. “Muita gente aqui precisa da barraca para tratar o suuru, o siri, o pescado. Tudo é parte de nossa cultura”, relata César Costa, pescador local.
Há mais ou menos 8 meses para cá, sob alegação de “crime ambiental”, a prefeitura local tem promovido seguidas ações de destruição dessas barracas, acabando com a tranquilidade das famílias. “Eles destroem, nós reconstruímos. É nossa forma de resistir. Já derrubaram seis vezes as barracas, mas seis vezes nós levantamos. Querem nos varrer do mapa para deixar a praia para quem tem muito dinheiro. Na frente das mansões você vê lá a placa da Secretaria de Meio Ambiente autorizando a obra; do outro lado, o resort está sendo construído em área irregular, mas lá está a mesma placa da SEMAM. E nós é que somos os criminosos?!”, denuncia, indignado, o pescador, recém engajado na Organização Popular (OPA).
“Na OPA, aprendemos que não estamos sós, que, para vencermos, precisamos nos unir, trabalhadores e trabalhadoras, do campo e da cidade, povos do mar e da floresta. Aprendemos que nosso caminho é a construção do Poder Popular. É o que temos feito e é o que vamos continuar fazendo”, conclui.
Atualmente, os pescadores montam vigília na única barraca restante e exigem o fim dos ataques e a reparação pelos danos materiais e emocionais sofridos.


Por Thales Emmanuel, militante da Organização Popular - OPA.

"Jesus da Gente"


Recebi, via whatsapp, de um jovem estudante Redentorista, o seguinte pensamento do Padre Júlio Lancellotti: "A gente procura Jesus no Sacrário e ele teima em ir para debaixo do viaduto". Fico muito feliz em perceber sinais de que a nossa formação está proporcionando aos nossos jovens esta percepção de Jesus, que é encarnação diária. Uma presença muitas vezes invisível, até para aqueles que passam apressadamente para "adorá-lo" em sacrários ornados com ouro, algo jamais imaginado por Jesus de Nazaré.
A CF 2020 vem justamente nos provocar nesse sentido, quando nos coloca diante da atitude do samaritano. "Ele viu, teve compaixão e cuidou dele". Até alguns anos atrás, ainda éramos capazes de sentir ao menos pena. Hoje, estamos sendo levados a sermos indiferentes e, em muitos casos, até cúmplices de um modelo de sociedade que quer banir do seu meio aqueles e aquelas que aos seus olhos nada significam. Sendo, para tanto, até favoráveis ao extermínio.
A doutrina social da Igreja – sim, a Igreja tem uma doutrina social! –, embora alguns queiram ignorá-la e coloquem em evidência apenas o que tange à moral, no número 207, nos leva a entender a necessidade de redescobrir o sentido da caridade. Precisamos superar a noção de uma caridade individual e assistencialista para a dimensão de uma caridade social e construtora da libertação humana. Encontrar Jesus caído e questionar as causas de sua queda.
Dom Hélder já bem nos alertava sobre isso: "Quando dava comida aos pobres, me chamavam de santo; mas quando comecei a questionar as causas da pobreza, chamaram-me de comunista". Não é fácil tomar atitudes que fogem das rédeas do sistema. Bem sabemos o que aconteceu com Jesus de Nazaré, Oscar Romero, Dorothy, Margarida Alves, Josimo, Ezequiel, Zé Maria do Tomé e tantos outros assassinados por serem considerados subversivos. Sempre foi e sempre será melhor para os que querem se manter no poder que sejamos apenas oferecedores de uma sopa quente.
Diante de um sistema que não se sustenta mais, como diz o papa Francisco, e que sai dizimando os povos originários; explorando a maioria, cada vez mais empobrecida; invadindo o espaço para os grandes projetos depredadores; incentivando a violência contra as mulheres, os LGBTTI+, os jovens das periferias; precisamos ser profecia. Se nos calarmos, as pedras falarão. Há muita profecia fora da Igreja: nas praças, nas ruas, nos sambódromos... "Meu nome é Jesus da gente!"

Por padre Júlio Ferreira, missionário redentorista.

O que significa o 8 DE MARÇO para a luta das mulheres





Para entendermos melhor a luta das mulheres, devemos partir do começo, de quando fomos transformadas, de deusas, em objeto de propriedade do homem-mercado. As condições de vida das mulheres atualmente devem muito a essa história. Portanto, temos o dever de conhecer nosso passado para entendermos o presente e saber pelo que e como devemos lutar.
De acordo com Bachofen, nas primeiras gerações humanas, a mulher e o homem tinham relações bem diversas da que se atribui como “natural” hoje em dia. Sequer existia o termo “monogamia”. Somente a maternidade era conhecida. Elas eram vistas como uma espécie de deusa, muito respeitadas e apreciadas, já que tinham o “poder” de gerar outra vida. Nesta época, as tarefas eram distribuídas de forma equilibrada: o homem lidava com a caça, a mulher com a agricultura e os filhos eram cuidados por todos, sem submissão de ninguém. As terras e a alimentação também eram de usos comuns.
Após este primeiro período da história humana, outras formas de relações entre tribos ou comunidades se desenvolveram. Homens e mulheres se relacionaram até chegar o ponto dos homens se tornarem os chefes de propriedades e da família, e a mulher ficar geralmente reclusa ao espaço e atividades domésticas. Com a chegada da Revolução Industrial, no final do século 1800, as mulheres foram enviadas às fábricas. O valor pago por sua mão-de-obra era muito mais barato que o dos homens, e muito também eram as horas de trabalho diárias. Eram açoitadas, humilhadas e espancadas.
Alexandra Kollontai dizia que o Dia da Mulher, ou “o Dia da Mulher Trabalhadora”, como ela o chamava, “é um dia de solidariedade internacional, um dia para rever a força e a organização das mulheres proletárias”, das mulheres trabalhadoras. Daquelas que diariamente estão presentes no trabalho doméstico, na feira, no comércio, cuidando dos filhos, nas indústrias, na universidade, nos sindicatos; enfim, mulheres que vivem várias jornadas de trabalho por dia.
Kollontai o denominava assim porque esse dia não nasceu do acaso. Ele veio da revolta de mulheres trabalhadoras contra as condições degradantes de trabalho que lhes eram impostas desde o inicio da industrialização. No século 19, tais condições atingiram um ápice, tanto na Europa como nos Estados Unidos.
Há duas versões sobre o fato histórico que levou à criação do 8 de Março. A primeira conta que foi em decorrência de uma manifestação espontânea de trabalhadoras do setor têxtil de Nova Iorque, contra os baixos salários e a jornada de 12 horas, no dia 8 de março de 1857. Reprimida violentamente pela polícia, na qual muitas trabalhadoras foram presas e mortas. A segunda versão aponta para o 8 de março de 1908, data em que as trabalhadoras da fábrica têxtil ‘Cotton’, de Nova Iorque, declararam greve em protesto pelas condições insuportáveis de trabalho. Na sequência disso, ocuparam a fábrica e o patrão prendeu-as lá dentro, fechou todas as saídas e incendiou o local. Morreram queimadas as 129 trabalhadoras que lá estavam. Além desses dois episódios, o mês de março tem uma importância simbólica muito grande, devido a uma série de outras lutas proletárias.
Desde sempre, os/as socialistas – pessoas que lutam por igualdade social e contra o capitalismo – defenderam o direito igual para as mulheres, inclusive pelo sufrágio feminino, isto é, o direito ao voto nas eleições. Reivindicações que não interessavam à burguesia, classe rica e dominante.
No mundo capitalista, por um bom tempo, o voto era um direito somente de homens da nobreza e de alguns endinheirados. Depois, mesmo tendo sido estendido a todos os homens, as mulheres continuaram impedidas de participar de eleições. Eram exploradas sem piedade nas indústrias capitalistas, mas eram alienadas deste e de outros direitos.
Em vista disso, em 1909, 28 de fevereiro, as mulheres socialistas dos Estados Unidos organizaram grandes manifestações e encontros por todo o país para exigirem direitos políticos para as trabalhadoras.
As discussões das mulheres continuaram em vários países. No ano seguinte, Clara Zetkin, uma líder socialista alemã, apresentou, durante a II Conferência Internacional das Mulheres Trabalhadoras, a questão da organização de um dia internacional da mulher trabalhadora, que deveria ser repetido todos os anos no mesmo dia sob o lema “O voto pelas mulheres unirá nossa força na luta pelo socialismo”. Com isso, no dia 19 de Março de 1911 foi celebrado o Dia Internacional da Mulher.
Naquele período, o Dia Internacional da Mulher era comemorado durante todo o mês de março, em diferentes locais, não tendo uma data fixa, mesmo com as conferências. Por fim, consolidou-se um dia mundial e fixo para que todas as mulheres estivessem em sintonia e juntas nas lutas, este dia foi debatido e decidido para ser 8 de Março.
Temos consciência que a burguesia e o capitalismo tentaram e tentam se apoderar da simbologia do Dia da Mulher. Pretendem que ele deixe de ser da Mulher Trabalhadora para que se transforme em um dia comercial por excelência. Tentam comprar a consciência das mulheres trabalhadoras com flores, rosas... Mas nós sabemos o quanto de espinhos carrega cada rosa com que tentam corromper nossa luta!
Lutamos por direitos, mas não consideramos os direitos, por si só, suficientes. Temos, principalmente, de aprender a fazer uso de cada direito conquistado ou a ser conquistado!
Lutamos por direito ao estudo, mas queremos que o conhecimento adquirido pela nossa luta seja usado para benefício da humanidade em cada país que nos encontremos. Lutamos por trabalho com 8 horas diárias e salário compatível ao dos homens (mesma função, mesmo salário). Recusamos a jornada dupla ou tripla devida ao cuidado do lar; queremos divisão de responsabilidades e tarefas. Queremos o direito ao divórcio sem ter de correr riscos de morte, de feminicídio. Queremos o direito à saúde em todo o seu significado (saúde específica da mulher, da criança, da adolescente, saúde para exercer uma vida sexual sadia, saúde na velhice). Queremos o direto à família, mas que ela seja exatamente o que a palavra significa: comunhão de pessoas que se ligam pelo amor. Recusamos a ser transformadas em carregadoras de família, como geralmente o homem usa.
Precisamos questionar a sociedade constituída, capitalista e machista, sobre o individualismo que acorrenta a mulher às tarefas cotidianas repetitivas e embrutecedoras dentro de cada lar, principalmente nas casas de trabalhadores e trabalhadoras, pois nos lares da burguesia essas tarefas são realizadas pela “empregada doméstica”.
Que tal coletivizarmos atividades comuns em cada rua? Nos referimos a restaurantes coletivos, lavanderias coletivas, creches coletivas, organizando o trabalho em ações de rodízio. Assim, promovemos a socialização da vizinhança, aumentando a segurança e diminuindo custos. Nossa luta se modifica conforme a sociedade muda.
Queremos e lutamos para sermos reconhecidas como sujeito no trabalho, na rua, na Igreja, nas universidades, nas escolas, nas festas!
Queremos e lutamos para não sermos alvos de chantagem social nem de alienação psicológica!
Queremos e lutamos para sermos mulheres conscientes da necessidade de acabar com a exploração!
Queremos e lutamos para sermos TRANSFORMAÇÃO!
VIVA O DIA 8 DE MARÇO!
VIVA A LUTA DAS MULHERES TRABALHADORAS!
AVANTE!

Por Amélia Nunes e Caroline Cirqueira, militantes da Organização Popular (OPA) e do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro.