*Pe. Antonio Julio Ferreira de Souza,
C.Ss.R.
Conclamados pelo Papa Francisco, estamos vivenciando o ano da
misericórdia. E chamados a sermos misericordiosos como o Pai. Esse tempo da
Quaresma, com certeza, deve nos ter ajudado a entender os motivos e razões
pelos quais, Jesus, o Filho, foi condenado e assassinado numa cruz. O seu crime
foi por em prática, na sua ação missionária, a misericórdia.
A prática de Jesus, acolhendo os marginalizados pela
sociedade de seu tempo, incomodou os opressores do povo, os que detinham o
poder político, econômico e religioso. Para eles, era melhor que as pessoas
continuassem na situação de subserviência em que estavam acostumados. Jesus
veio dar vista aos cegos, fazer surdos ouvirem, libertar os cativos e
"proclamar um ano de misericórdia do Senhor". E foi por isso que
armaram ciladas e perseguiram o justo. Eles fizeram a escolha de ficarem do
lado de fora da festa, do banquete da vida.
Na bula de proclamação do jubileu extraordinário da misericórdia,
intitulado o Rosto da Misericórdia, o Papa Francisco nos diz: "Quantas
situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas
feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi
esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Neste
Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, a
aliviá-las com o óleo da consolação, a enfaixá-las com a misericórdia e
tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas."
Instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos
pobres é o que os cristãos e a comunidade são chamados a ser, segundo o Papa
Francisco escreve no livro a Igreja da Misericórdia. Somos desafiados a
estarmos atentos aos clamores dos pobres, pois assim o fez o "Pai
bom" que, não só ouviu, mas desceu para livrá-los das mãos dos opressores.
Esse jubileu da misericórdia não pode perder de vista esse
viés e direcionar-se para uma misericórdia dissociada da justiça e da profecia.
Quem disse que não é ano para denúncia? Para Francisco, "ficar surdo a
esse clamor, quando somos os instrumentos de Deus para ouvir o pobre, nos
coloca fora da vontade do Pai e do seu projeto, porque esse pobre clamaria ao
Senhor contra ti, e aquilo tornar-se-ia para ti um pecado."
*Missionário Redentorista, Militante da Organização Popular -
OPA - e Jornalista .