quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Ressaca tem cura


Por Thales Emmanuel*

A recente derrota eleitoral das forças progressistas deixou muita gente de ressaca. Boa parte esquece, no entanto, que o que antecedeu a náusea não foi a vitória dos anos “gloriosos” do PT, mas o inebriar delirante de falsas perspectivas.
As manifestações de massa em 2013, o aumento progressivo das abstenções eleitorais de 1989 para cá, a desconfiança crescente em relação aos partidos políticos, a venda do voto, a repercussão praticamente nula do “vote consciente”, os ditos populares (“É tudo ladrão!”)...
Encabrestada pelas armas de festim disponibilizadas pela burguesia, a esquerda empalidece com a sangria contínua de suas artérias. A parte ora mais expressiva dela vê na classe trabalhadora um eleitorado; na democracia da burguesia, a sua democracia, e transforma a Rede Globo, o golpe em maus aceitáveis, necessários. As ruas são encaradas como suporte à barganha parlamentar. Fora disso, é desordem, vandalismo. Regradas pela política da minoria, a maioria vermelha é dobrada e vencida como força menor.
Não fosse a já esquecida delação premiada contra Romero Jucá, nenhuma notícia se teria sobre a movimentação nos quartéis. Para muitos, a interferência direta da CIA em todo processo recente ou é coisa de filme de ficção ou defeito normal de uma frágil democracia em construção. Um pedido de desculpas do governo estadunidense e tá tudo certo.
A autodomesticação da esquerda se constitui no principal feito da direita nas últimas décadas.
Retomar e estreitar os vínculos com as massas oprimidas e exploradas, extraindo desta relação novos modelos organizativos e uma estratégia de transformação radical da sociedade. Embasar, popularizar a história da luta de classes e de sua impossível conciliação. Nesta caminhada, aprender a ouvir o povo, oxigenando e tornando viva a teoria. O Poder Popular, entendido como resposta prática desta interação, fará da luta direta autônoma sua principal forma de participação política.    
São tarefas gratuitas que precisam ser incorporadas ao cotidiano das organizações de esquerda. Se não tivermos desaprendido a aprender, venceremos, como nos ensina nossa querida Rosa. Ou fazemos isso ou testemunharemos como cúmplices, ainda que críticos, a barbárie promovida pela única lógica de funcionar do capital. 

*Thales Emmanuel é militante do Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e da Organização Popular (OPA).

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