Por Thales Emmanuel*
A recente
derrota eleitoral das forças progressistas deixou muita gente de ressaca. Boa
parte esquece, no entanto, que o que antecedeu a náusea não foi a vitória dos
anos “gloriosos” do PT, mas o inebriar delirante de falsas perspectivas.
As manifestações
de massa em 2013, o aumento progressivo das abstenções eleitorais de 1989 para
cá, a desconfiança crescente em relação aos partidos políticos, a venda do
voto, a repercussão praticamente nula do “vote consciente”, os ditos populares
(“É tudo ladrão!”)...
Encabrestada
pelas armas de festim disponibilizadas pela burguesia, a esquerda empalidece com
a sangria contínua de suas artérias. A parte ora mais expressiva dela vê na classe
trabalhadora um eleitorado; na democracia da burguesia, a sua democracia, e transforma
a Rede Globo, o golpe em maus aceitáveis, necessários. As ruas são encaradas
como suporte à barganha parlamentar. Fora disso, é desordem, vandalismo. Regradas
pela política da minoria, a maioria vermelha é dobrada e vencida como força menor.
Não fosse a já
esquecida delação premiada contra Romero Jucá, nenhuma notícia se teria sobre a
movimentação nos quartéis. Para muitos, a interferência direta da CIA em todo
processo recente ou é coisa de filme de ficção ou defeito normal de uma frágil
democracia em construção. Um pedido de desculpas do governo estadunidense e tá tudo
certo.
A autodomesticação
da esquerda se constitui no principal feito da direita nas últimas décadas.
Retomar e
estreitar os vínculos com as massas oprimidas e exploradas, extraindo desta
relação novos modelos organizativos e uma estratégia de transformação radical
da sociedade. Embasar, popularizar a história da luta de classes e de sua
impossível conciliação. Nesta caminhada, aprender a ouvir o povo, oxigenando e
tornando viva a teoria. O Poder Popular, entendido como resposta prática desta
interação, fará da luta direta autônoma sua principal forma de participação
política.
São tarefas
gratuitas que precisam ser incorporadas ao cotidiano das organizações de
esquerda. Se não tivermos desaprendido a aprender, venceremos, como nos ensina
nossa querida Rosa. Ou fazemos isso ou testemunharemos como cúmplices, ainda
que críticos, a barbárie promovida pela única lógica de funcionar do capital.
*Thales Emmanuel é militante do Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e da Organização Popular (OPA).
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