sábado, 28 de outubro de 2017

OPA e os desafios da construção do Poder Popular


Por padre Júlio Ferreira* 
A Construção do Poder Popular foi a tônica do encontro regional da OPA - Organização Popular -, que aconteceu de 04 a 06 de outubro em Aracati - Ceará. A História da Revolução Russa nos serviu de análise da conjuntura e base para adentrarmos ao tema. Nada melhor do que se partir de experiências vividas para a compreensão do que se quer construir. 
O projeto de Poder Popular é algo latente, que pulsa nas veias e bombeia o sangue dos militantes e das militantes das causas populares em tempos e espaços diversos. Segundo o MCP - Movimento das Comunidades Populares -, o Poder Popular é a organização permanente de todo o povo em seus locais de moradia, trabalho e estudo. É algo construído de baixo para cima, a partir da base.
Para o pensador marxista uruguaio, Raul Zibechi, o Poder Popular é algo distinto do Estado e que está em conflito com ele, seja num governo de direita ou de esquerda. "O Poder Popular é uma auto-organização de sujeitos revolucionários." Ainda, segundo Zibechi, "nos espaços onde predomina o Poder Popular não poderá ser reproduzida a lógica capitalista. Aí deverão ser potencializadas as práticas comunitárias, socialistas, coletivas, comunistas." "Tem de ser um poder diferenciado," diz ele.
Segundo Ademar Bogo, para o projeto de Poder Popular ser vitorioso é de fundamental importância que se leve em conta duas coisas: a cultura e a luta de classes. "Não pode haver um projeto de sociedade futura sem considerar e sem valorizar a cultura popular". Continua ele: "O projeto é de classe, mas contempla o popular que circunda a classe, quando as forças populares, esperançosas por mudanças, se vinculam ao projeto consciente e solidário formulado pela classe organizada." 
No processo de construção do Poder Popular, um fator que não pode ser esquecido é o poder midiático. O Poder Popular passa também pelo controle da comunicação. Por isso, diz Leopoldo Volanin, é necessária uma reação em conjunto dos movimentos e da sociedade civil organizada para contrapor-se a essa ditadura midiática. "A democratização dos meios de comunicação será a via mais rápida para por fim a conflituosa relação entre mídia e movimentos sociais, sinaliza. 
Esse tema continuará sendo pauta de estudo dos grupos de base para aprofundamento e será retomado no próximo encontro da OPA, nos dias 08, 09 e 10 de dezembro, em Teresina - Piauí. 


*Padre Júlio Ferreira é Missionário Redentorista e militante da OPA.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

OPA e PJ realizam panfletagem em memória dos 100 anos da Revolução Socialista na Rússia



Por Caroline Cirqueira*
Hoje, 25 de outubro, de acordo com o calendário juliano, faz 100 anos que aconteceu a Revolução Socialista Russa. Naquele tempo, os camponeses e trabalhadores lutavam por melhorias sociais, por direito à terra, por uma vida digna, sem exploração.
A Revolução Russa nos ensinou que precisamos estar atentos... Nós também precisamos lutar! Sair do comodismo que a mídia nos oferece na bandeja diariamente (e ainda trazendo uma xícara de café, para que continuemos deitados e felizes, como se tudo estivesse perfeito) e indagar o porquê da crise, o porquê de tantos trabalhadores e trabalhadoras não receberem um salário digno, o porquê do dinheiro e do lucro ficarem na mão de minorias, o porquê da seca que maltrata o povo, o porquê das terras em mãos de grandes empresários, o porquê de tanta violência em escolas e bairros, o porquê de lotação em penitenciárias, o porquê de tantas mortes a todo instante, o porquê de projetos visualmente deslumbrantes, mas que oprimem o sujeito que nele pertence, o porquê da centralização midiática, são infinitos os porquês...
Mas, para mudar isto, não adianta falar somente da importância do seu voto, é necessário mais. Não adianta fantasiar uma situação de jogar uma bomba no Congresso. Não adianta refletir e não agir. É preciso ter garra para conhecer as realidades, os povos oprimidos. É preciso enxergar. Perguntem, sejam curiosos, corram atrás da verdade, só assim é possível sentir a inquietação de querer mudar essa sociedade. Quem ousa lutar, um dia há de vencer.
E, nesta luta, a PJ (Pastoral da Juventude) da Paróquia São José Operário e a OPA (Organização Popular) de Teresina panfletaram nas ruas da Comunidade Bom Jesus, buscando levar informações e o verdadeiro sentido de esperança e garra que a Revolução Russa nos proporciona até os dias de hoje.
Cada semente plantada faz a diferença. Como afirma o evangelho: "A que assemelharemos o reino de Deus, ou com que parábola o representaremos? É como um grão de mostarda, que, quando semeado na terra, embora seja menor que todas as sementes que há na terra; contudo, depois de semeado, cresce e se torna a maior de todas as hortaliças e deita grandes ramos, de tal modo que as aves do céu podem pousar à sua sombra." (Marcos 4:30-32).
Lutar pelos e com os mais pobres e oprimidos é estar em sintonia com o Reino de Deus. Sejamos e sigamos como grãos de mostarda. 

*Caroline Cirqueira é militante da OPA e da PJ.


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

100 anos depois de hoje*

História e atualidade da Revolução Russa

Por Thales Emmanuel**

Era o ano de 1917. A fome se alastrava na cidade e no campo, mas não para toda gente. Na cidade, as mazelas não atingiam os ricos capitalistas; no campo, a nobreza seguia ostentando o poder sobre as terras e, consequentemente, sobre o trabalho das famílias campesinas, que representavam 80% da população e eram obrigadas, por ordens do czar, a enviar seus filhos para morte no fronte de batalha da Primeira Guerra Mundial.

Czar era o título conferido aos imperadores da Rússia, uma espécie de rei, cujo poder se alicerçava na riqueza de seus amigos latifundiários, industriais e banqueiros, riqueza originada da exploração de milhões de trabalhadores e trabalhadoras.

Se comparado a outros países da Europa capitalista, a Rússia era um reinado atrasado, ainda feudal. Somente em algumas poucas cidades um operariado se formava, sobretudo pela entrada de capitais estrangeiros.

12 anos antes, em 1905, acontecimentos abalaram as estruturas daquela sociedade decadente. Em janeiro, dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras marcharam pelas ruas de São Petersburgo em direção ao Palácio de Inverno, residência do czar. Usavam símbolos religiosos. Não queriam guerra. Queriam que o imperador olhasse para eles, que ajudasse a sanar a difícil situação na qual estavam mergulhados. Mas o czar, indiferente à crucificação que pesava sobre a maioria da população, recebeu o povo à bala. O episódio, que ficou conhecido como Domingo Sangrento, foi o estopim para uma revolução popular.

Domingo Sangrento

Greves se espalharam rapidamente, soldados se rebelaram contra as ordens que vinham de cima. Nasceram os sovietes, os conselhos de operários, soldados e camponeses, que passaram a organizar, através da democracia direta, parte da produção, da imprensa e de outros setores da vida social. Com os sovietes, a classe trabalhadora descobriu, na prática, que não precisava de patrões.

A crise aperta e Nicolau II, o czar, dá a entender que vai recuar, prometendo reformas democráticas. Uma cilada! Quase nenhuma promessa é cumprida e a repressão ataca com força máxima as organizações da classe trabalhadora. Prisões, mortes e difamações. A maré da luta dos de baixo reflui, como se precisasse ganhar novo fôlego. Alguns conseguem escapar para o exílio. Mais uma importante lição de 1905: é preciso destruir o poder das forças opressoras antes que este destrua o Poder Popular.

Os anos seguem e, em fevereiro de 1917, a luta de classes se acirra mais uma vez. Uma mobilização no Dia Internacional das Mulheres confere novo impulso às forças populares. Ressurgem os sovietes. A memória de 1905 corre viva nas veias do povo! O czar abdica do trono e o poder se divide em dois: de um lado, a duma, uma espécie de congresso nacional, um governo provisório, que reúne membros das classes proprietárias e de organizações de trabalhadores que acreditam na necessidade de uma etapa de desenvolvimento capitalista antes da luta pelo socialismo propriamente dita; de outro, os sovietes, apoiados pelo Partido Bolchevique e pela ala esquerda de algumas daquelas organizações inseridas no governo provisório. Os bolcheviques puxam a palavra de ordem “Todo poder aos sovietes!”, acreditam na capacidade da classe trabalhadora conduzir uma revolução socialista, e acompanham o povo nas ruas com os gritos de “Pão, paz e terra!”

Mulheres em luta na Revolução

Os meses passam e o governo provisório não atende às reivindicações das ruas. Seu descrédito ante as massas populares cresce ainda mais. Em sentido inverso, a confiança nos bolcheviques aumenta, fazendo com que suas ideias se tornem hegemonia nos sovietes. Em meio à extrema precarização da vida, os de cima não conseguiam mais governar como antes e os de baixo não queriam mais retornar à difícil vida que levavam.

Um setor do governo provisório, comandado pelo general czarista Kornilov, ensaia um golpe contra o próprio governo. Entre o ruim e o pior, os bolcheviques mobilizam os trabalhadores para o combate contra Kornilov, sem gerar ilusões quanto as intenções do governo provisório: “Não o apoiamos, e sim desmascaramos sua debilidade.” Kornilov é derrotado e as massas populares aderem ao bolchevismo definitivamente.

O campesinato se levanta. O Partido Bolchevique defende a entrega imediata das terras aos agricultores e trabalha para que o movimento no campo se una à luta dos operários na cidade. O vínculo com e entre a classe trabalhadora se estreita ainda mais.

Lenin, dirigente bolchevique, fala ao povo.

É chegado o momento de organizar a insurreição, é preciso destruir o poder que destrói. O socialismo abre passagem, sem pedir licença, e um 2° congresso nacional dos sovietes é convocado. Na madrugada do dia 25 de outubro, segundo o calendário juliano russo, o governo provisório é derrubado e os sovietes, mais os bolcheviques, tomam o poder. Os países capitalistas beligerantes voltam suas armas contra a Rússia revolucionária e se inicia um período de guerra civil que durará até 1921. A classe trabalhadora internacional se solidariza com a classe trabalhadora russa, enquanto as classes ricas destilam seu ódio apoiando e patrocinando ações terroristas e difamando a Revolução de todas as formas possíveis e imagináveis.

1917 marca o início do ciclo de revoluções socialistas, com forte impacto na trajetória social do mundo ainda hoje. O Muro de Berlim caiu em 1989 – mas caiu do lado errado. Hoje, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas não existe mais, mas essa heroica experiência, sem precedentes na história humana, serviu para mostrar que, além de necessária, uma outra forma de organizar a vida é possível de ser construída.

Os soviéticos interviram decisivamente para uma série incontável de conquistas populares. Países da África se libertaram do julgo colonial com seu apoio, o nazifascismo foi derrotado com a resistência e ofensiva de seu povo, as mulheres avançaram de forma nunca antes vista para superação das desigualdades de gênero. Até a banda capitalista do planeta teve que fazer inéditas concessões à classe trabalhadora em seus territórios, com medo desta seguir o repertório vermelho. Para citar alguns exemplos.

Os revolucionários e revolucionárias daquele tempo ousaram vencer, constituindo com isso o mais abominável dos pecados para quem desfruta da vida na parte de cima da pirâmide social. Como toda obra humana, muitos erros e até crimes foram cometidos. Crimes que, na sociedade capitalista, naturaliza-se e se estimula como valor e princípio, diga-se de passagem.

Que os desvios não escapem à uma imprescindível e permanente autocrítica, nem muito menos sirvam de justificativa para abandono do ideal de libertação. Até porque a humanidade, 100 anos depois de hoje, dependerá inteiramente do que fazemos agora com a memória da generosidade soviética de 100 anos atrás.

*Texto originalmente publicado em Informativo Redentorista, Vice-Província de Fortaleza.

**Thales Emmanuel é militante da Organização Popular (OPA) e do Partido Comunista Brasileiro (PCB).