Acompanhamos nos últimos dias, infelizmente de maneira deturpada, a greve dos policiais militares do Estado do Ceará. Deturpada porque a mídia sensacionalista se encarregou de transformar a greve, um movimento pacífico, em algo altamente perigoso e aterrador, causando pânico e caos nas ruas e bairros da capital e do interior.
Na corrida pelo ibope e pelo furo de reportagem, a mídia abre mão de regras básicas do bom jornalismo. A função de mediação entre a realidade e o telespectador tem sido desvalorizada. A fórmula americana é seguida pela mídia brasileira, amparada pelo tripé violência, sexo e esporte.
O jornalismo sensacionalista, se é que se pode chamar de jornalismo, ao contrário do jornalismo sério, não está preocupado com as pessoas envolvidas na matéria, nem com a ética, mas pura e simplesmente com o espetáculo. O mais importante é a manchete e o seu impacto. O que rege esse tipo de jornalismo é a lógica do mercado, preocupado apenas com o consumo.
Produz exageradamente o espetáculo de violência, seguindo a máxima de que “o crime vende”. Para isso pessoas são expostas ao ridículo e muitas vezes cidadãos são transformados em bandidos de alta periculosidade. No jornalismo sensacionalista as partes envolvidas não são ouvidas, não se confere informações e condena-se previamente suspeitos ou acusados.
Um espaço que fora criado para informar e formar o cidadão, ajudando-o a gerar conhecimento, através de temas relevantes, transformou-se em espaço de satisfação de necessidades instintivas. Ignora-se completamente os assuntos de interesse público. O público deixa de ser sujeito, passando a ser consumidor de um conteúdo espetacular.
É com pesar que assistimos a espetacularização das notícias, o desrespeito para com a vida humana e a sua banalização. Infelizmente, nem todo jornalista no exercício da profissão pensa o jornalismo como criador de democracia e o coloca no viés do sensacionalismo e da mercadoria. O que nasceu para ser salvaguarda da sociedade passa de repente a ser temido pela mesma.
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