Todo artigo tem um por que. Ele nasce de uma conversa, de uma situação, de uma leitura, de uma preocupação, etc. No caso deste, que começo a escrever agora, é fruto de uma conversa recente e de uma outra mais antiga. Digamos que ele já estava sendo concebido há algum tempo. E que agora chegou o momento de passar das idéias, do pensamento para o papel. É algo que merece ser partilhado, creio eu.
Faço parte de uma geração de padres que nasceu com as Comunidades Eclesiais de Base. E que encontrou uma Congregação Religiosa aberta para os sinais dos tempos, capaz de fazer as leituras cabíveis e necessárias para a inserção do carisma e da espiritualidade para o hoje da história. Sou religioso, padre, na Congregação do Santíssimo Redentor.
Nas CEBs, na Congregação e no Instituto Pastoral do Ceará – ITEP, sempre debatemos, discutimos e entendemos a Eucaristia como sendo serviço, desprendimento, partilha, entrega da vida, livre e comprometida. Como canta Zé Vicente, “celebrar a eucaristia é também ser torturado, é ser perseguido e preso, é ser marginalizado, ser entregue aos tribunais, numa cruz prá ser pregado”.
Recentemente, estava pronto para celebrar a eucaristia quando fui indagado por um jovem, religioso, estudando para ser padre, se eu iria celebrar a eucaristia de tênis, pois segundo o professor de liturgia, isso é anti-litúrgico. O sapato, segundo ele, tem que ser preto e não pode ser tênis. Indagação como essa, já tinha feito a mim, anos atrás, um outro jovem, religioso, estudando para ser padre.
Gostaria de ser indagado e questionado pelos nossos jovens religiosos, estudando para serem padres ou não, por estar sendo displicente no compromisso com os mais pobres e abandonados, com os excluídos de nossa sociedade, com os atingidos pelos grandes projetos depredadores. Ficaria feliz, muito feliz, e até agradeceria, se fôssemos todos chamados a atenção, enquanto grupo, por estarmos sendo infiéis a causa do Reino, ao seguimento de Jesus, a espiritualidade e carismas afonsianos. Seria, para nós, um grande ensinamento.
No mundo eclesial em que vivemos hoje, inverteram-se as prioridades. O que menos importa mesmo é a Eucaristia. Os paramentos, as vestes litúrgicas, os sapatos pretos brilhosos são mais importantes e têm mais visibilidade do que o mestre que diz: “se eu não te lavar os pés, não terás parte comigo”. Prefiro continuar na contramão, como canta Airton de Maria. “Com Jesus na contramão eu vou, acolhendo os pequeninos do Reino que anunciou. Com Jesus na contramão eu vou, lutando contra o sistema excludente e opressor”. É esse, para mim, o verdadeiro sentido da Eucaristia.
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