Gostaria de não falar
de fim de ano, até porque ele é mera cronologia. Acredito que há uma
continuidade histórica, o ano é o mesmo, apenas dividido em etapas. O que virá
em seguida não nos pegará de surpresa, se soubermos nos preparar para enfrentar
com audácia e sabedoria. Não precisamos ser adivinhos, mas somente, e tão
somente, bons leitores da realidade na qual estamos inseridos/inseridas. Assim
faziam os profetas e profetisas.
Bem sabemos das lutas enfrentadas
ao longo de 2014; dos conflitos, das perseguições, das resistências e das
conquistas. O enfretamento das comunidades tradicionais frente aos grandes
projetos, na tentativa de reconquistar seus espaços que foram tragados com voracidade
capital. Em 2015, pelo que se nos apresenta a conjuntura, eles virão com mais
força e legitimidade.
Com certeza também nós
chegaremos mais fortalecidos/as, pois estamos aprendendo que se faz necessário
uma organização popular, já não é mais viável (na verdade nunca foi) empunhar
bandeiras isoladas, quando o inimigo que enfrentamos nos é comum. Cada etapa é
um aprendizado. A próxima nos convida a essa parceria e também a revermos
nossas estratégias. Nos tratemos como companheiros e companheiras e não como
adversários.
O novo que todos nós
desejamos vai acontecer, a partir do que nos permitirmos a construir. E é bom
que nos deixemos perguntar: O que realmente nós queremos? Para que queremos?
Para quem queremos? Onde nós queremos chegar? Não esqueçamos que "os
filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz". Eles sabem
se organizar e se articular para defender seus interesses.
Que 2015 possa nos
encontrar destemidos, e que o medo não nos paralise. Façamos dele nossa
energia. Sobre nosso chão continuem as mobilizações justas e
"vândalas", mesmo em meio as criminalizações e o império midiático; as
ocupações dos sem terra e dos sem teto; as construções dos barracões das
resistências; as lutas dos povos indígenas e quilombolas; o enfrentamento dos
preconceitos e o fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base e dos
movimentos sociais. Os embates nos tem ensinado que sem conflitos não há
construção, seja do Reino ou do socialismo.
Ferramentas de lutas
nós já temos de sobra, o que nos falta, então? Talvez aprumar o rumo, saber o
norte. Já chega de ficar atirando para todos os lados e cada um ao seu modo. Se
continuarmos assim nada haverá de novo, só continuísmo da mesmice. Feliz
continuidade das belas histórias que começamos a construir. E quando 2015
chegar nos encontre empunhando uma única bandeira: a construção do poder
popular.