Refletir sobre o Ser Redentorista
nos leva a olhar para a nossa identidade, pois SER significa existir, é algo
íntimo, próprio. Neste caso há algo que nos pertence, que é só nosso. Uma marca
registrada por Afonso de Ligório em 1732, que discerniu como sua a vocação de continuar a obra de Jesus Redentor
pregando a Boa Nova aos pobres mais abandonados[1].
Para Afonso Ser Redentorista é
estar despojado de tudo, até de si mesmo como fez o Redentor, não poupando nenhum esforço para amar e ser
amado[2].
É com este mesmo espírito de entrega e doação que nós Redentoristas, leigos e
consagrados, devemos continuar a missão Redentora.
Ser Redentorista é estar
disponível para ir aonde ninguém quer ir, nem mesmo a Igreja. É estar imbuídos do zelo apostólico de nosso
fundador que não se empenhava para levar
os abandonados de volta à Igreja. Ao invés, levou a Igreja a essas pessoas que
ela havia abandonado[3].
O Redentorista mantém-se firme na
opção preferencial pelos pobres e excluídos da sociedade, mesmo quando certas
ondas apontam noutra direção. O Redentorista não é de seguir ondas e modismos
que o afaste das suas origens. Faz parte da identidade Redentorista seguir na
direção dos cabreiros. Creio que hoje a
Congregação é chamada a exprimir a inspiração carismática de Afonso num
dinâmico processo de solidariedade. Solidariedade é compaixão, pois ela nos
compromete com a luta histórica dos pobres e fracos deste mundo e nos associa
aos que estão abandonados e sem esperança[4].
O Ser Redentorista não pode
jamais se acomodar ou se adequar a realidades dissonantes do carisma e
espiritualidade que lhes são próprios. O centro da espiritualidade redentorista é
Cristo Redentor, tal como se revela sobretudo nos mistérios da Encarnação,
Paixão e Ressurreição, e é celebrado na Eucaristia; essa centralidade nos
conduz a ser viva memória e a continuar a sua missão no mundo. Essa
espiritualidade profundamente cristocêntrica nos impulsiona a redescobrir cada
vez melhor a herança de Santo Afonso em seus êxodos para os pobres. O
Redentorista segue a Cristo Redentor e prossegue a sua práxis libertadora[5].
Para muitos, inclusive para
alguns Redentoristas, os tempos são outros e falar de opção preferencial pelos
pobres, de Teologia da Libertação, de Comunidades Eclesiais de Base é coisa do
passado. Tal afirmação poderia até fazer sentido se os pobres, excluídos
marginalizados tivessem deixado de existir, mas eles existem. Mesmo que a constatação seja óbvia não é
supérfluo lembrá-la já que há muitos que pretendem viver e organizar o mundo
como se os pobres não existissem[6].
Certa vez, Dom Pedro Casaldáliga,
indagado sobre o fim da Teologia da Libertação, respondeu: Deus e os pobres
continuam. Ser Redentorista é continuar afirmando a libertação integral de
homens e mulheres tornados descartáveis pela sociedade de consumo, e vistos de
maneira ingênua por uma igreja que se distancia cada vez da sua raiz profética
e espiritualiza tudo sem levar em conta a situação concreta das pessoas.
Há uma identidade Redentorista
que não pode ser negada e nem falseada, embora o contexto seja outro. Quem são
os cabreiros de hoje? Esta é a pergunta que deve ressoar em nossos ouvidos. São
muitos os clamores: Moradores de Rua, Encarcerados, Menores, Sem Terra,
Favelas, Jovens, Migrantes, Comunidades tradicionais atingidas pelos grandes
projetos depredadores... O mundo dos
pobres, enquanto constitui uma interpelação permanente as nossas próprias
vidas, atua como um poderoso fator de auto-conhecimento: nos revela o que somos
e também aquilo de que somos capazes[...] ao mesmo tempo que vamos descobrindo
que a pobreza é uma injustiça e um pecado do qual não somos totalmente alheios,
ressoa em nós um chamado incessante a conversão e a revisão de vida[7].
Penso que como parte de nossa
Missão Redentorista deveríamos ser linha de frente no fortalecimento da Igreja
dos pobres, pois o critério de fidelidade
da Congregação é o seguimento de Cristo na evangelização dos mais pobres e
abandonados. Portanto nos perguntamos: Estamos onde deveríamos estar? Estamos
onde se encontram as urgências pastorais?[8]
[1] A
Redenção. Communicanda 2, Junho de 2006. Nº 17, p.13.
[2] IDEM. Nº
14, p. 11.
[3] IDEM. Nº
18, P.14.
[4] IDEM. Nº
41, p.26.
[5] Capítulo
Geral XXI. Documento Final, 1991. Nº 36, p.22.
[6] Espiritualidade
Redentorista 7, 1996, p. 194.
[7] IDEM.
P.197.
[8] Chamados
a dar a vida pela Copiosa Redenção. Communicanda 1. Nº 38, p. 23.
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