O relato da paixão, no domingo de Ramos, diz que os chefes,
os poderosos, os que tramaram a morte de Jesus incitaram o povo para que
pedissem a sua condenação. E o povo começou a gritar: crucifica-o! Fiquei
pensando sobre a lei de redução da maioridade penal que está para ser votada no
Congresso. E o quanto continuamos, nos dias de hoje, pedindo a condenação dos
inocentes.
O mesmo sistema que cria as desigualdades sociais, que
marginaliza os pobres, os negros, os indígenas, as mulheres, os homoafetivos...
é que depois trama a sua morte. Somos sabedores que o que se faz necessário é a
ruptura urgente desse sistema de morte. A redução da maioridade penal não
resolve o problema. É preciso atingir as causas. Onde estão as políticas
públicas para nossa juventude? Educação de qualidade? O valor digno pelo
trabalho executado?
Esses dias uma emissora de televisão exibiu várias matérias
sobre crianças e adolescentes, mas com uma única intenção: mostrar os motivos,
embora de maneira disfarçada, para a redução da maioridade penal. São os
grandes e poderosos que continuam insuflando o povo para que gritem que os
menores são vagabundos, deliquentes e violentos. E que merecem ser punidos.
E, na maioria das vezes, são pessoas fervorosas que estão na
Igreja todos os dias comungando o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo
que se tornam cúmplices daqueles que continuam crucificando Jesus nos dias de
hoje. Enquanto pessoas que nem se dizem
católicas e nem professam em nenhuma outra religião estão defendendo a vida.
Assumem com maior fidelidade elementos propostos pelo Reino de Deus.
Jesus vai até as últimas consequências na defesa da vida e do
projeto da boa notícia que ele acredita. Tentaram intimidá-lo, mas ele
continuou firme. É bom que nesse tempo da semana santa, começando pelo domingo
de ramos, possamos nos questionar sobre que tipo de cristãos estamos sendo nós.
Nos banqueteamos com o banquete de morte de Herodes ou estamos do lado daquele
que propõe o banquete da vida plena?
A proposta do Reino de Deus não agrada a todos, pois mexe com
interesses. É uma proposta que gera conflitos. Muitos que se colocaram contra
esse sistema de morte, foram também, como Jesus de Nazaré, levados a tribunais,
julgados, condenados e mortos. E com certeza muitos ainda o serão. O mais
importante é continuar acreditando e lutando para que a páscoa aconteça.
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