Fortaleza, 14
de abril de 2015.
Por Thales Emmanuel*
“Jesus foi o primeiro socialista: ele
dividiu o pão e o vinho.” Quando o então presidente da República Bolivariana da
Venezuela, Hugo Chávez, fez esta declaração, muitas pessoas se incomodaram. A
elite burguesa e seus porta-vozes logo condenaram como heresia marxista, mais
uma justificativa para a derrubada do governo. Em uma parte da esquerda, ainda
mergulhada em dogmatismos, a reação foi idêntica, muito embora o jargão de
“desvio ideológico” transparecesse, ao menos auditivamente, certa proximidade
com o materialismo histórico dialético.
Dom Hélder era outro que causava
controvérsias parecidas com seus pronunciamentos. Para o fundador da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a missão de promover a luta
dos pobres por sua libertação é evangelização de Cristo, não obstante digam que
é política, subversão ou comunismo. Foi nesse percurso que constatou que, ao
dar comida aos pobres, o chamavam de santo; mas ao indagar pelas causas da
pobreza, rotulavam-no de comunista.
Em 2014, ano passado, o “indigesto”
papa Francisco também polemizou ao identificar, no que diz respeito à causa dos
oprimidos, cristianismo com comunismo, afirmando, em tom alegre, terem os
comunistas roubado a bandeira dos pobres, que, segundo ele, é cristã. No mesmo
período, de forma inédita, reuniu-se com movimentos populares de todos os
continentes e profetizou sobre o fim do capitalismo, devendo este ser
substituído por uma “estrutura social em que o ser humano fosse prioridade”.
Esta semana, ao fazer memória a
genocídios sofridos no século XX pela humanidade, Francisco citou o do povo
armênio, o nazismo e o stalinismo. Curiosamente, ao referenciar um período
específico e cheio de nebulosidades das experiências de transição socialista, o
Bispo de Roma mais uma vez quebrou o protocolo oficial do Vaticano ao não
direcionar a condenação ao comunismo enquanto projeto de sociedade.
Se supostos cristãos negam a luta de
libertação dos oprimidos em nome da adoração a um deus distante e Todo
Poderoso, e pretensos comunistas, em louvor a Totalidade Social, desprezam o
auxílio pessoal e imediato a necessitados, não é responsabilidade nem de Jesus
nem de Marx, pois suas propostas de vida plena e de emancipação humana
continuam atualíssimas e desautorizando ambos os desvios.
*Thales Emmanuel é militante do
Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem terra (MST) e da Organização
Popular (OPA).
Ótimo texto!!! PARABÉNS por seu poder de síntese e sistematização das ideias.
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