Por Josenilson
Doddy*
Heróis, figuras de um
poder extremamente ideológico, capazes de manipular a construção da consciência
crítica das pessoas. Por trás de cada figura heróica e suas narrativas
históricas existe um jogo de interesses que convida a segui-la.
Qual criança
ou adulto não deseja ser herói, dotada de superpoderes e personalizando o que
há de mais belo e de mais justo? Defensores do bem estar social e contra todos
aqueles que se encontram do lado do mal.
A ficção exerce imenso poder
sobre a realidade. Através das telinhas superluminosas da mídia somos abduzidos
à cultura do comodismo. Para que preocupação? Se as coisas não vão bem, acalme-se!
Logo, logo um super-herói aparecerá trazendo a salvação.
No mesmo rumo vai a
ideia de resolver tudo pelo povo, em nome do povo. Quem disse que uma figura
dotada de poderes sobre-humanos é mais capaz de resolver os problemas sociais do
que o próprio povo organizado, atingido diretamente por tais problemas? “Quem
disse que o cego não pode enxergar?”
Heróis não podem ser
confundidos com mártires. Enquanto um separa, personaliza e acomoda; o outro
tem sua trajetória marcada pela mistura, coletivizando-se e contribuindo para o
despertar da consciência crítica. No encalço da martirização há sempre um
rastro de transformação, de semente de libertação. Onde pisam os heróis, nem
tiririca nasce.
Na estratégia de manipulação
de mentes da política partidária eleitoral este processo é bastante utilizado para a
aparição apoteótica dos candidatos. São os heróis do povo e seus superpoderes.
As câmaras parlamentares? A própria Liga da Justiça. Para que participação popular
nas decisões, quando se tem superrepresentantes? De que vale a luta popular,
diante de superdiscursos? O imaginário coletivo é invadido pela ficção sem que,
antes, esta seja identificada como tal.
No judiciário, os
heróis de toga são apresentados como semideuses guardiões da Verdade. Além do
poder de raio-X, são imunes à parcialidade das urnas, à "prestatividade" das
corporações e à criptonita. O fato de falarem a mesma língua da mídia comercial
e outros setores conservadores não passa de uma supercoincidência, superrecorrente devido à supercompetência
em separar o legal do ilícito nos autos.
É em nome do povo que o
superjuiz, Sérgio Mouro, vem intimando seletivamente os aqui-inimigos da
Verdade. Que Verdade?! Ora, pois! A única! Não existe conciliação de classes quando
o assunto é exercício de poder na Liga da Justiça.
Os heróis são
internalizados nas consciências para que o povo não enxergue a realidade, para
que não veja a trama dominante contida nas linhas e entrelinhas da Veja. Na
sociedade capitalista, a burguesia controla os meios de difusão de ideias e,
consequentemente, os meios de fabricação de heróis.
Assim, chega de heróis,
de estruturas fabricantes de heróis! Construamos com as nossas próprias mãos o
poder popular, capaz de apontar no rumo da sociedade que precisam e almejam as
pessoas cuja força reside na organização. “Sejamos nós que conquistemos a terra
mãe, livre e comum.”
*Josenilson Doddy é
militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e da Organização
Popular (OPA).
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