Pe. Julio Ferreira, C.Ss.R
Vejo-me mais uma vez diante de uma cartilha da CNBB motivando os cristãos a participarem da política, agora intitulada: "O cidadão consciente participa da política." Já vimos outras como: "Voto não tem preço, tem consequência."
Logo na introdução da cartilha, uma fala do Papa Francisco:
"Para o cristão, é uma obrigação envolver-se na política. Nós, cristãos, não podemos fazer como Pilatos: lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos cristãos devem trabalhar na política."
O conteúdo da cartilha não traz nada de novidade, apenas repete as mesmas generalizações de sempre: "Para escolher e votar bem, é imprescindível conhecer, além dos programas dos partidos, os candidatos e sua proposta de trabalho, sabendo distinguir claramente as funções para as quais se candidatam." E ainda: "A Igreja Católica não assume nenhuma candidatura, mas incentiva os cristãos leigos e leigas, que têm vocação para militância político-partidária, a se lançarem candidatos."
A meu ver, essa relação da Igreja com a política parece com aquilo que Jesus fala sobre ser morno e ser vomitado. Mesmo que o Papa Francisco fale em não sermos como Pilatos, acabamos sendo. Enquanto instituição, lavamos as mãos. Deixamos a responsabilidade para o cristão leigo e, ao mesmo tempo, não damos suporte, apenas "incentivamos". Esse é uma dos motivos de termos "cristãos" servindo a dois senhores, haja vista a posição dos deputados ditos católicos durante o processo de impedimento da Presidenta Dilma.
Se o Papa Francisco diz que esse sistema não se sustenta mais, pois é insuportável, como continuar a defendê-lo? Ou como não atacá-lo?
A própria CNBB, em nota, durante todo esse processo, mesmo sabendo que estávamos diante de mais um golpe, lavou as mãos, dizendo apenas:
"Ao se pronunciar sobre questões políticas, a CNBB não adota postura político-partidária. Não sugere, não apoia ou reprova nomes, mas exerce o seu serviço à sociedade, à luz dos valores e princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja. Desse modo, procura respeitar a opção política de cada cidadão e a justa autonomia das instituições democráticas, incentivando a participação responsável e pacífica dos cristãos leigos e leigas na política. "
“Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor.” Essas palavras de Desmond Tutu devem ecoar em nós, pois não tem como se fazer política ficando em cima do muro. E esse não foi o legado que Jesus Cristo deixou para nós. Com certeza os omissos serão julgados pela História. Não se pode cair no simplismo de apelar para a consciência, quando se está diante de um projeto declarado de morte imposto pela burguesia.
Os ritos processuais em ralação a Jesus também foram respeitados e, como nós sabemos, mataram um inocente.
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