Aracati, 29 de julho de 2015.
Por JosenilsonDoddy*
Há
décadas, cientistas, filósofos, teólogos e pessoas de vivência prática apontam
reflexões sobre a situação da nossa casa, nossa mãe, que “geme como que em
dores de parto” (Rm 8,22).
A
humanidade é chamada a se conscientizar sobre o estilo de vida adotado e
imposto que dizima a vida. Uma cultura de descarte, onde as matérias-primas e
recursos naturais são esgotados e se convertem rapidamente em lixo, afetando
nitidamente a terra e os seres humanos, que nada mais são que parte desta
grande obra.
Até
o século XX, muitos acreditavam e defendiam que a função do homem era conhecer
a natureza para dominá-la. Partindo desse princípio, a degradação exacerbada
foi adquirindo forças através do sistema do capital, que prioriza, antes de
tudo, o lucro, sendo a vida tratada como algo banal e sem valor. Neste sistema,
o ser humano, dotado de inteligência e força física, ataca a terra e aos que se
colocam em sua defesa, como diz Ademar Bogo.
A
propriedade privada pode ter surgido da carência dos meios de sobrevivência. No
entanto, no decorrer da história, tornou-se a razão de ser da sociedade,
constituída na forma concreta da relação da força do trabalho com o capital. O
ter ganhou força total, o egoísmo se proliferou e a ganância humana passou a
destruir os recursos naturais em prol da concentração do poder, exaurindo uma
boa parte da vida do planeta e levando o mundo ao caos da destruição,
colocando-o em crises irremediáveis, se considerado o princípio ativo advindo
da mesma lógica de destruição.
Criou-se
um círculo vicioso, no qual a intervenção humana para resolver uma dificuldade,
muitas vezes agrava ainda mais a situação. Por exemplo: muitos pássaros e
insetos, que desaparecem por causa dos agrotóxicos criados pela tecnologia, são
úteis para a própria agricultura, e o seu desaparecimento deverá ser compensado
por outra intervenção tecnológica, que possivelmente trará novos efeitos
nocivos (Papa Francisco,2015).
O sistema do lucro, imposto para a sociedade,
causa os problemas com sua degradação e, através de seus meios tecnológicos,
maquia uma solução que logo acarretará em mais problemas, somente para que se
continue a produzir exacerbadamente novas tecnologias, sugando e destruindo a
cada dia a vida do planeta, para que se aumentem os lucros que beneficiam uma
minoria da população. Mas as consequências do caos atingem principalmente
aqueles que sobrevivem com as migalhas e tão pouco usufruem do tal “progresso”.
As
estimativas apontam que a água, um bem comum de todos, está em uma grande
escassez e que provavelmente, em algumas décadas, não será mais de todos e sim
daqueles que poderão pagar pelo seu preço para consumi-la. Apenas 2,5% da água
do planeta é potável. Menos de 10 países, dentre eles o Brasil, detém 60% desta
totalidade. Destaca-se que 70% de toda a água utilizada hoje é consumida na
agricultura, nas lavouras irrigadas. O restante, 20%, é destinado à indústria,
e apenas 10% para o consumo humano, sendo que 1/5 da humanidade não dispõem de água
potável (ONU, 2006).
Aponta-se
para um futuro, não tão distante, que guerras serão travadas para se obter o
controle do que ainda resta de água potável e quem ganhará com isso novamente
serão aqueles que detêm o poder de guerra. Diariamente é repassado para a
população em geral que devemos reduzir o consumo d’água, que este bem está
prestes a acabar, sendo que, quem de fato consume a grande maioria de água são
as empresas, indústrias e grandes negócios do capital, os diretamente
responsáveis por toda esta catástrofe.
De
fato, todos devem tomar medidas imediatas de preservação e cuidado com o
planeta; porém, os verdadeiros culpados continuam a destruir com seu consumismo
exagerado e tão pouco se importam com os que realmente sofrem, pois estão
amparados por suas tecnologias e quase não sofrem com os impactos e danos
causados pelo sistema. A pergunta que nos preocupa é: se o sistema atual
persistir, permitirá que se use qualquer bem da natureza sem pagar?
A
necessidade de que se obtenha outro sistema é urgente e nitidamente visível. O
sistema capitalista já chegou a seu limite, levando o planeta ao caos. O poder
de mudança está nas mãos dos que sofrem diariamente com os danos, pois as
estruturas do sistema só serão modificadas através da organização popular. E
quando o povo de fato assumir o poder, saberá como viver em abundância, sem
exaurir a vida do planeta. Quando a igualdade social existir,a humanidade
compreenderá que somos parte da mãe terra e que dela devemos cuidar. Mas para
que isso aconteça é necessário estruturar um novo sistema e que nele a vida
esteja em primeiro lugar.
*JosenilsonDoddy
é militante da Organização Popular (OPA) e da Pastoral da Juventude do Meio
Popular (PJMP).
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