Nos livros, a
palavra democracia significa poder
exercido pelo povo, sendo este ao mesmo tempo maioria. Mas o que é então democracia quando, no mundo real, esta
serve apenas a uma minoria?
Na década de
1964, tentamos alargá-la com as Reformas de Base, mas veio o golpe. Em 1989, voltamos
a eleger diretamente a presidência da república depois de quase três décadas, mas
aí já existia a Rede Globo e a manipulação pela concentração de poder sobre os
meios de comunicação. Atualmente, deparamo-nos com mais um governo ilegítimo,
colocado e mantido por uma aliança que vai do judiciário à grande mídia
empresarial. Direitos negados, usurpados do povo, e sendo este ao mesmo tempo
maioria.
No
capitalismo, em regra por ele mesmo inviolável, instituições que, dizem,
deveriam defender o povo, ou não funcionam ou funcionam contrárias ao próprio
povo. Em virtude disso, sem canais oficiais pelos quais possa colocar e ter
atendido suas demandas, compelido pelo agravamento das necessidades, o povo
toma então a iniciativa da mobilização, vai àsj ruas, ocupa órgãos do Estado;
enfim, a pressão popular passa a ser a única maneira encontrada de se fazer
ouvir. Mas aí vem a perseguição, a criminalização dos movimentos.
Na democracia
da minoria, a repressão realizada pelos órgãos que, por lei, deveriam proteger o
povo, demonstra que a política não será admitida como exercício de poder cotidiano,
não para a maioria, devendo esta se restringir ao período eleitoral e ter como
essência a terceirização deste poder, além de estar permanentemente sujeita a
reveses, de acordo com as flutuações dos interesses econômicos dominantes. Sobre
este fato, a história comprova: sem democracia na economia, sem democracia no
controle dos meios de produção, não há democracia na política, ao menos não a
democracia em que o poder é exercido pelo povo, sendo este ao mesmo tempo
maioria. A FIESP que o diga, há mais de cinquenta anos, impunemente, encabeçando
golpes.
Não diferente
de muitos outros locais, em Aracati-CE, os canais de participação popular na
política vêm sendo abertos na marra, às custas de muita luta e autonomia. Percebendo-se
padecedor de mazelas comuns, o povo aos poucos vai se fazendo também militante
de causas comuns. “Se eles têm o poder do dinheiro, nós temos a força da união”,
como ensina uma palavra de ordem da Organização Popular (OPA), atuante desde
2010 no município.
A OPA e demais
movimentos populares existentes em Aracati estão em constante processo de
criminalização por parte de poderes econômicos e de instituições do Estado da
democracia da minoria. Teve hora que a injustiça oficial local foi tão
escancarada, que uma juíza chegou a ser afastada de suas funções por favorecimento
comprovado a grandes empresários. A militância popular tem enfrentado permanentes
ameaças e tentativas de assassinato e boa parte já fora intimada a depor nos
tribunais. São Sem Terra, Sem Teto, pescadores e pescadoras artesanais, jovens,
trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, perseguidos por cobrar algo
que lhes foi historicamente tirado e, portanto, é-lhes devido: o direito à vida
digna.
O episódio
mais recente de repressão ocorreu este mês, quando comunidades impactadas pela
obra de duplicação da ponte Juscelino Kubitschek, sobre o Rio Jaguaribe
(projeto de construção civil que se impôs sobre a invisibilização da vida
humana existente ali), animadas pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que
integram a OPA, decidiram fechar a BR 304 para que uma antiga pauta de
reivindicação, que se arrasta há aproximadamente 10 anos, fosse atendida.
Por
solicitação do Superintendente Substituto da Regional no Ceará da Polícia
Rodoviária Federal (PRF), Wilton Mourão Torquato, a companheira Jocélia
Ribeiro, moradora da comunidade Pedregal, atingida pela obra, e militante das
CEBs e da OPA, foi notificada sob alegação de “Abuso do Direito à Livre
Expressão”. O documento revela ainda atuação do serviço de inteligência do
órgão contra o movimento, numa nítida inversão de valores e tentativa de
intimidação, como ocorria de forma mais evidente nos idos de 1964-86.
Assim, repudiamos
contundentemente o autoritarismo de práticas como estas, que negam ao povo o
direito de se manifestar livremente, sobretudo quando outros direitos lhes são
negados. Numa democracia, tais instituições deveriam servir a efetivação de
direitos, e não o contrário.
As causas populares
são causas coletivas, a luta é coletiva e ambas seguirão coletivamente adiante,
até que a superação dos problemas sociais, em sua raiz, torne-se marco
definitivo para a inexistência da necessidade de manifestações do tipo. Até que
a democracia, entendida como poder exercido pelo povo, sendo este ao mesmo
tempo maioria, seja uma realidade experimentada em sua completude.
Jocélia somos
nós. Nós somos Jocélia.
Lutar não é
crime!
Pastoral da
Juventude do Meio Popular – PJMP
Movimento
dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra – MST
Organização
Popular – OPA
Missionários
Redentoristas de Fortaleza – Defesa da Vida
Ângela Tavares Madeiro – Assistente Social e Professora e membro do Conselho Municipal da Mulher de Aracati
Congregação Missionária da Sagrada Família
Eliton Menezes - Defensor Público do estado do Ceará
Congregação Missionária da Sagrada Família
Eliton Menezes - Defensor Público do estado do Ceará
Comunidades
Eclesiais de Base da Regional I – CEBs do Ceará
Centro
Acadêmico do Curso de Serviço Social da Faculdade do Vale do Jaguaribe
PROMULHER, do
Curso de Serviço Social da Faculdade do Vale do Jaguaribe
Unidade Classista
Instituto Caio Prado Júnior
Comissão Pastoral da Terra (CPT) - Diocese de Limoeiro do Norte-CEUnidade Classista
Instituto Caio Prado Júnior
Maria das Graças e Silva - Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco
Virgínia Fontes - Historiadora professora da Universidade Federal Fluminense e Fiocruz
Anderson Deo - Professor da Universidade Estadual Paulista
Padre Júnior Aquino - Professor da Faculdade Católica de Fortaleza
Articulação Nordeste das Pastorais Sociais, CEBs e Organismos
Cáritas Brasileira - Regional Ceará
Entenderam ou precisaremos desenhar? PARABÉNS, companheiros e companheiras, 🎼"essa luta é nossa, essa luta é do povo, é só lutando Q construiremos um mundo novo"🎼
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