terça-feira, 9 de junho de 2015

Reconhecer Jesus no pobre: sinal de respeito e veneração



Por: Pe. Antonio Julio Ferreira de Souza


Tapetes coloridos enfeitavam as ruas por onde o cortejo deveria passar. As vestes litúrgicas impecáveis, tanto as dos bispos, padres, quanto a dos coroinhas que levavam o pálio protegendo o Corpo de Cristo. Celebrava-se mais uma festa de Corpus Cristi, com pompas e ostentações. Coisa que, com certeza, Ele mesmo jamais imaginou para si.

Ao ver essa cena se repetir todos os anos, fico a me perguntar: até que ponto nós estamos sendo fiéis a pessoa de Cristo e ao seu projeto ? Somos capazes de desfilar com ele por horas e adorá-lo, mas não conseguimos estar com ele onde ele realmente está, que é o grande desafio. Como nos diz o canto, as vezes até mesmo prá chegar depressa à Igreja, desviamos o nosso olhar e o nosso trajeto.

Ao escrever esse artigo, fico imaginando as grandes favelas e os seus conflitos, as ocupações urbanas com os Josés, as Mazés, os Chiquins, as Núbias e tantos outros que nós, enquanto sociedade e também enquanto Igreja, teimamos em marginalizar e excluir do nosso convívio, pois eles trazem problemas e roubam a nossa paz. É mais fácil ficar no nosso comodismo e fazer de conta que somos fervorosos cristãos.

Talvez alguns, ao lerem esse artigo, debatam comigo dizendo: Jesus merece respeito, por isso tem que ter um lugar digno, uma procissão digna, vestes dignas... enfim as desculpas que gostamos de dar para não assumirmos os nossos desvios. E as pessoas desrespeitadas em seus direitos básicos, sendo tratadas como não humanos, como nós olhamos para elas? Nos indignamos ao vermos os corpos das crianças, dos jovens, dos negros, indígenas... sendo mutilados, maltratados, exterminados?

Recentemente disse o Papa Francisco: "como gostaria que as comunidades paroquiais em oração, no ingresso de um pobre na igreja, se ajoelhassem em veneração do mesmo modo como quando entra o Senhor!” Também Dom Helder, já sinalizava para essa questão, quando disse: "mais que comum dos dias, olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome, esmagados pelas humilhações, e neles descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado!"

Um gesto de que compreendemos o que nos disse o próprio Jesus em Mt 25, 31-46 (Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram) seria programarmos, dentro de nossas atividades, momentos de adoração nesses lugares de vulnerabilidade, lugares onde era para estarmos, lugar onde Jesus com certeza está. E, ao invés de nos adornarmos com nossas púrpuras e transformar Jesus naquilo que ele nunca desejou ser, caminharmos com os pés descalços sobre a terra vermelha, nos becos onde estão aqueles e aquelas que nos precederão no Reino dos Céus.

E quando passar a marcha dos oprimidos do campo e da cidade que sejamos os primeiros a engrossar as fileiras, empunhando as bandeiras em favor daquele que continua sendo crucificado nos nossos tempos/templos.

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