Por Thales Emmanuel*
Somos mais de 7 bilhões de pessoas habitando o planeta, nossa casa comum. Comum?!! Talvez esta não seja ainda a palavra mais apropriada.
Em janeiro passado, a ong Oxfam divulgou que oito homens detém riqueza equivalente ao "possuído" por metade da população, ou seja, 8 = 3,6 bilhões de pessoas.
Quanta miséria, quantas famílias sem-terra, sem-teto, quantas mortes por doenças curáveis, quantos corpos e almas para sempre sequelados, quantas infâncias violadas, enterradas em caixotes, quantos jovens encarcerados e quantas rebeliões de internos, quantos Carandirus, quanto racismo, quantas guerras, quanto sangue e quanta dor são necessários para que se produza uma única grande fortuna?
E como isso é possível? Como essa estrutura se mantém, quando o peso de uma pena parece mais que suficiente para lhe fazer desmoronar?
Combinando violência e controle ideológico.
Os donos da casa comum se fazem proprietários exclusivos do planeta gastando por ano mais de trilhão de dólares com guerras. "Gastando" é modo de dizer, já que a fonte patrocinadora é pública. São os Estados seus principais fiadores. Estima-se que só o governo estadunidense, comando central do Império, possui quase mil suportes militares espalhados mundo afora.
A propaganda e a força bélica são inseparáveis. Mas cabe à propaganda domesticar, internalizar no oprimido os padrões do opressor. Em seu estágio mais avançado, o oprimido passa a defender as regras e valores do opressor como sendo seus. A servidão é tão mais "voluntária" quanto mais introjetada é a violência. Papa Francisco chama essa dominação de "colonialismo ideológico".
Nos querem indiferentes. Através das telas de TV, naturalizam o absurdo. Na novela, que importa se famílias moram num lixão?! Mais vale desvelar a identidade do assassino misterioso. Criam um inimigo de todos, que está sempre a espreita. O pobre, o preto, o favelado. Diante do sofrimento do próximo, o medo nos torna cruéis, nos anestesia, como alerta Francisco. O colonialismo ideológico recorre ao medo sempre que é preciso justificar o injustificável.
A célula de plástico genitora da sociedade capitalista reproduz organismos doentios. O plano de saúde lucra com a falta de hospitais; a indústria farmacêutica ganha com o anúncio de uma nova epidemia; a seca inunda de acionistas o mercado da água; a política despolitiza e a democracia se privatiza endossada pelo voto de uma maioria; o trabalho empobrece quem trabalha; e não há nada mais injusto que o sistema judiciário.
Os bens da natureza, dádiva gratuita para uso comum, e os meios de produção construídos com o suor e o apertar de tantas mãos, estão privatizados, constituindo assim o primeiro grande ato de corrupção. O segundo é a legalização e naturalização de tudo isso.
Para concluir, retorno a Francisco, para quem a "desigualdade é a raiz dos males sociais": "Todos os muros ruem. Todos! Não nos deixemos enganar. Continuemos a trabalhar para construir pontes entre os povos, pontes que nos permitam derrubar os muros da exclusão e da exploração."
Que o verbo se faça carne!
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Fontes para aprofundamento:
- Tempos Modernos - filme de Charlie Chaplin.
- Os Edukadores - filme de Hans Weingartner.
- A História das Coisas - filme da Tides Foundation.
- Manifesto do Partido Comunista - livro de Karl Marx e Friedrich Engels.
*Thales Emmanuel é militante do Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e da Organização Popular (OPA).
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