Por Pe. Julio Ferreira, C.Ss.R*
Logo no
início do papado de Francisco, escutei de um padre amigo: "Agora
sinto-me validado como padre". No dia 13 de março de 2017, quando
se chega aos quatro anos de Francisco como bispo de Roma, sente-se que o
sentimento expresso por meu amigo padre é, na verdade, compartilhado pela
Igreja dos pobres. Todos nós nos sentimos validados em nossas
palavras e ações na defesa da vida.
Essa
validação nos faz lembrar a ressurreição de Jesus. Quando os grandes e
poderosos, que mataram Jesus, pensaram ter a última palavra, Deus-pai
o ressuscita. Ele valida tudo o que o filho disse e fez. Somos validados,
depois de perseguidos (muitas vezes calados pela própria Igreja e pelo "fermento
dos fariseus" que se infiltra em nossas CEBs, em nossas
lutas, nos movimentos populares etc).
No dia 13 de
dezembro de 2013, Francisco enviou uma mensagem para o 13º Intereclesial das CEBs. Na
mensagem, recordou o documento de Aparecida: "As CEBs são
um instrumento que permite ao povo chegar a um conhecimento maior da
palavra de Deus, ao compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de
novos serviços leigos e à educação da fé dos adultos (DA 178). E
conclui a mensagem convidando os participantes do 13º Intereclesial "a
vivê-lo como um encontro de fé e de missão, de discípulos missionários que
caminham com Jesus, anunciando e testemunhando com os pobres a profecia dos
novos céus e da nova terra." Foi a primeira vez na história dos Intereclesiais que
um papa nos dirigiu uma mensagem.
Aos
movimentos populares, em um primeiro encontro, no dia 28 de outubro de
2014, Francisco agradeceu por terem aceito o convite para debater os problemas
sociais. Disse-lhes: "Vós viveis na vossa pele a desigualdade e a exclusão.
Anseios como terra, trabalho e casa deveriam estar ao alcance de todos,
mas encontram-se distantes da maioria das pessoas, enfatizou Francisco.
"É estranho, mas se falo disto para alguns, o papa é comunista."
Ao final do encontro, Francisco exortou que os movimentos populares continuem
lutando, pois é um bem que se faz a todos.
Como não se
sentir validado diante de um papa que tem a sensibilidade de reconhecer
que a missão da Igreja é curar as feridas do mundo atual? "Quantas
feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi
esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos." Um papa
que tem a coragem de questionar o sistema econômico vigente e dizer que ele não
se sustenta mais?
E, por
fim, como não sentir que se está no caminho certo, quando o próprio papa, que
nos valida em nossas ações na construção do Reino, é incompreendido? Por
que não dizer: perseguido pelos que desejam que a Igreja continue servindo
a dois senhores (como se fosse possível)?
*
Missionário Redentorista, militante da OPA e jornalista.
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