segunda-feira, 23 de março de 2020

Paraíso Vendido



Fortim, município do Ceará, localizado a 132 km de Fortaleza, com 17 mil habitantes, tem uma beleza natural incrível, com dunas, falésias e praias belíssimas, além de ser local de encontro do rio Jaguaribe com o oceano Atlântico. Essa paisagem tem atraído bastante turistas, fato facilmente verificado pelas inúmeras mansões construídas e em construção à beira-mar, boa parte pertencente a estrangeiros. Também na praia, sobre dunas e falésias, não é difícil enxergar as bases de uma obra que, segundo moradores locais, pretende dar lugar a um hotel de luxo. “Um paraíso”, diriam os mais precipitados. “Mas para quem?”, questionariam os mais atentos.
Para as famílias nativas de pescadores, é costume e necessidade construírem pequenas palhoças que servem de apoio ao trabalho no mar, também utilizadas em momentos de lazer. “Muita gente aqui precisa da barraca para tratar o suuru, o siri, o pescado. Tudo é parte de nossa cultura”, relata César Costa, pescador local.
Há mais ou menos 8 meses para cá, sob alegação de “crime ambiental”, a prefeitura local tem promovido seguidas ações de destruição dessas barracas, acabando com a tranquilidade das famílias. “Eles destroem, nós reconstruímos. É nossa forma de resistir. Já derrubaram seis vezes as barracas, mas seis vezes nós levantamos. Querem nos varrer do mapa para deixar a praia para quem tem muito dinheiro. Na frente das mansões você vê lá a placa da Secretaria de Meio Ambiente autorizando a obra; do outro lado, o resort está sendo construído em área irregular, mas lá está a mesma placa da SEMAM. E nós é que somos os criminosos?!”, denuncia, indignado, o pescador, recém engajado na Organização Popular (OPA).
“Na OPA, aprendemos que não estamos sós, que, para vencermos, precisamos nos unir, trabalhadores e trabalhadoras, do campo e da cidade, povos do mar e da floresta. Aprendemos que nosso caminho é a construção do Poder Popular. É o que temos feito e é o que vamos continuar fazendo”, conclui.
Atualmente, os pescadores montam vigília na única barraca restante e exigem o fim dos ataques e a reparação pelos danos materiais e emocionais sofridos.


Por Thales Emmanuel, militante da Organização Popular - OPA.

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