Recebi, via whatsapp, de um jovem estudante
Redentorista, o seguinte pensamento do Padre Júlio Lancellotti: "A gente
procura Jesus no Sacrário e ele teima em ir para debaixo do viaduto". Fico
muito feliz em perceber sinais de que a nossa formação está proporcionando aos
nossos jovens esta percepção de Jesus, que é encarnação diária. Uma presença
muitas vezes invisível, até para aqueles que passam apressadamente para
"adorá-lo" em sacrários ornados com ouro, algo jamais imaginado por
Jesus de Nazaré.
A CF 2020 vem justamente nos provocar nesse sentido,
quando nos coloca diante da atitude do samaritano. "Ele viu, teve
compaixão e cuidou dele". Até alguns anos atrás, ainda éramos capazes de
sentir ao menos pena. Hoje, estamos sendo levados a sermos indiferentes e, em
muitos casos, até cúmplices de um modelo de sociedade que quer banir do seu
meio aqueles e aquelas que aos seus olhos nada significam. Sendo, para tanto,
até favoráveis ao extermínio.
A doutrina social da Igreja – sim, a Igreja tem uma
doutrina social! –, embora alguns queiram ignorá-la e coloquem em evidência
apenas o que tange à moral, no número 207, nos leva a entender a necessidade de
redescobrir o sentido da caridade. Precisamos superar a noção de uma caridade
individual e assistencialista para a dimensão de uma caridade social e
construtora da libertação humana. Encontrar Jesus caído e questionar as causas
de sua queda.
Dom Hélder já bem nos alertava sobre isso: "Quando
dava comida aos pobres, me chamavam de santo; mas quando comecei a questionar
as causas da pobreza, chamaram-me de comunista". Não é fácil tomar
atitudes que fogem das rédeas do sistema. Bem sabemos o que aconteceu com Jesus
de Nazaré, Oscar Romero, Dorothy, Margarida Alves, Josimo, Ezequiel, Zé Maria
do Tomé e tantos outros assassinados por serem considerados subversivos. Sempre
foi e sempre será melhor para os que querem se manter no poder que sejamos
apenas oferecedores de uma sopa quente.
Diante
de um sistema que não se sustenta mais, como diz o papa Francisco, e que sai
dizimando os povos originários; explorando a maioria, cada vez mais empobrecida;
invadindo o espaço para os grandes projetos depredadores; incentivando a
violência contra as mulheres, os LGBTTI+, os jovens das periferias; precisamos
ser profecia. Se nos calarmos, as pedras falarão. Há muita profecia fora da
Igreja: nas praças, nas ruas, nos sambódromos... "Meu nome é Jesus da
gente!"
Por padre Júlio Ferreira, missionário redentorista.
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