Para
entendermos melhor a luta das mulheres, devemos partir do começo, de quando
fomos transformadas, de deusas, em objeto de propriedade do homem-mercado. As
condições de vida das mulheres atualmente devem muito a essa história.
Portanto, temos o dever de conhecer nosso passado para entendermos o presente e
saber pelo que e como devemos lutar.
De
acordo com Bachofen, nas primeiras gerações humanas, a mulher e o homem tinham
relações bem diversas da que se atribui como “natural” hoje em dia. Sequer
existia o termo “monogamia”. Somente a maternidade era conhecida. Elas eram
vistas como uma espécie de deusa, muito respeitadas e apreciadas, já que tinham
o “poder” de gerar outra vida. Nesta época, as tarefas eram distribuídas de
forma equilibrada: o homem lidava com a caça, a mulher com a agricultura e os
filhos eram cuidados por todos, sem submissão de ninguém. As terras e a
alimentação também eram de usos comuns.
Após
este primeiro período da história humana, outras formas de relações entre
tribos ou comunidades se desenvolveram. Homens e mulheres se relacionaram até
chegar o ponto dos homens se tornarem os chefes de propriedades e da família, e
a mulher ficar geralmente reclusa ao espaço e atividades domésticas. Com a
chegada da Revolução Industrial, no final do século 1800, as mulheres foram
enviadas às fábricas. O valor pago por sua mão-de-obra era muito mais barato
que o dos homens, e muito também eram as horas de trabalho diárias. Eram
açoitadas, humilhadas e espancadas.
Alexandra
Kollontai dizia que o Dia da Mulher, ou “o Dia da Mulher Trabalhadora”, como
ela o chamava, “é um dia de solidariedade internacional, um dia para rever a
força e a organização das mulheres proletárias”, das mulheres trabalhadoras.
Daquelas que diariamente estão presentes no trabalho doméstico, na feira, no comércio,
cuidando dos filhos, nas indústrias, na universidade, nos sindicatos; enfim,
mulheres que vivem várias jornadas de trabalho por dia.
Kollontai
o denominava assim porque esse dia não nasceu do acaso. Ele veio da revolta de
mulheres trabalhadoras contra as condições degradantes de trabalho que lhes
eram impostas desde o inicio da industrialização. No século 19, tais condições
atingiram um ápice, tanto na Europa como nos Estados Unidos.
Há
duas versões sobre o fato histórico que levou à criação do 8 de Março. A
primeira conta que foi em decorrência de uma manifestação espontânea de
trabalhadoras do setor têxtil de Nova Iorque, contra os baixos salários e a
jornada de 12 horas, no dia 8 de março de 1857. Reprimida violentamente pela
polícia, na qual muitas trabalhadoras foram presas e mortas. A segunda versão
aponta para o 8 de março de 1908, data em que as trabalhadoras da fábrica
têxtil ‘Cotton’, de Nova Iorque, declararam greve em protesto pelas condições
insuportáveis de trabalho. Na sequência disso, ocuparam a fábrica e o patrão
prendeu-as lá dentro, fechou todas as saídas e incendiou o local. Morreram
queimadas as 129 trabalhadoras que lá estavam. Além desses dois episódios, o
mês de março tem uma importância simbólica muito grande, devido a uma série de
outras lutas proletárias.
Desde
sempre, os/as socialistas – pessoas que lutam por igualdade social e contra o
capitalismo – defenderam o direito igual para as mulheres, inclusive pelo
sufrágio feminino, isto é, o direito ao voto nas eleições. Reivindicações que
não interessavam à burguesia, classe rica e dominante.
No mundo
capitalista, por um bom tempo, o voto era um direito somente de homens da
nobreza e de alguns endinheirados. Depois, mesmo tendo sido estendido a todos
os homens, as mulheres continuaram impedidas de participar de eleições. Eram
exploradas sem piedade nas indústrias capitalistas, mas eram alienadas deste e
de outros direitos.
Em
vista disso, em 1909, 28 de fevereiro, as mulheres socialistas dos Estados
Unidos organizaram grandes manifestações e encontros por todo o país para
exigirem direitos políticos para as trabalhadoras.
As
discussões das mulheres continuaram em vários países. No ano seguinte, Clara
Zetkin, uma líder socialista alemã, apresentou, durante a II Conferência
Internacional das Mulheres Trabalhadoras, a questão da organização de um dia
internacional da mulher trabalhadora, que deveria ser repetido todos os anos no
mesmo dia sob o lema “O voto pelas mulheres unirá nossa força na luta pelo
socialismo”. Com isso, no dia 19 de Março de 1911 foi celebrado o Dia
Internacional da Mulher.
Naquele
período, o Dia Internacional da Mulher era comemorado durante todo o mês de
março, em diferentes locais, não tendo uma data fixa, mesmo com as conferências.
Por fim, consolidou-se um dia mundial e fixo para que todas as mulheres
estivessem em sintonia e juntas nas lutas, este dia foi debatido e decidido
para ser 8 de Março.
Temos
consciência que a burguesia e o capitalismo tentaram e tentam se apoderar da
simbologia do Dia da Mulher. Pretendem que ele deixe de ser da Mulher
Trabalhadora para que se transforme em um dia comercial por excelência. Tentam
comprar a consciência das mulheres trabalhadoras com flores, rosas... Mas nós
sabemos o quanto de espinhos carrega cada rosa com que tentam corromper nossa
luta!
Lutamos
por direitos, mas não consideramos os direitos, por si só, suficientes. Temos,
principalmente, de aprender a fazer uso de cada direito conquistado ou a ser
conquistado!
Lutamos
por direito ao estudo, mas queremos que o conhecimento adquirido pela nossa
luta seja usado para benefício da humanidade em cada país que nos encontremos.
Lutamos por trabalho com 8 horas diárias e salário compatível ao dos homens
(mesma função, mesmo salário). Recusamos a jornada dupla ou tripla devida ao
cuidado do lar; queremos divisão de responsabilidades e tarefas. Queremos o
direito ao divórcio sem ter de correr riscos de morte, de feminicídio. Queremos
o direito à saúde em todo o seu significado (saúde específica da mulher, da
criança, da adolescente, saúde para exercer uma vida sexual sadia, saúde na
velhice). Queremos o direto à família, mas que ela seja exatamente o que a
palavra significa: comunhão de pessoas que se ligam pelo amor. Recusamos a ser
transformadas em carregadoras de família, como geralmente o homem usa.
Precisamos
questionar a sociedade constituída, capitalista e machista, sobre o
individualismo que acorrenta a mulher às tarefas cotidianas repetitivas e
embrutecedoras dentro de cada lar, principalmente nas casas de trabalhadores e
trabalhadoras, pois nos lares da burguesia essas tarefas são realizadas pela
“empregada doméstica”.
Que
tal coletivizarmos atividades comuns em cada rua? Nos referimos a restaurantes
coletivos, lavanderias coletivas, creches coletivas, organizando o trabalho em
ações de rodízio. Assim, promovemos a socialização da vizinhança, aumentando a
segurança e diminuindo custos. Nossa luta se modifica conforme a sociedade
muda.
Queremos
e lutamos para sermos reconhecidas como sujeito no trabalho, na rua, na Igreja,
nas universidades, nas escolas, nas festas!
Queremos
e lutamos para não sermos alvos de chantagem social nem de alienação
psicológica!
Queremos
e lutamos para sermos mulheres conscientes da necessidade de acabar com a
exploração!
Queremos
e lutamos para sermos TRANSFORMAÇÃO!
VIVA
O DIA 8 DE MARÇO!
VIVA
A LUTA DAS MULHERES TRABALHADORAS!
AVANTE!
Por
Amélia Nunes e Caroline Cirqueira, militantes da Organização Popular (OPA) e do
Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro.
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