A
ocupação
Às 5h00 da manhã deste
domingo, 03 , cerca de 300 famílias sem moradia ocuparam um terreno urbano em
Aracati. O terreno está localizado na Avenida Dragão do Mar e antigamente era
sede de uma grande cerâmica, hoje abandonada. A ocupação, chamada de Comuna,
faz parte, segundo Paulo Henrique Campos, integrante do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, de uma estratégia do movimento de
repensar a cidade a partir da ótica dos que são invisíveis pela lógica do
capital. Há uma grande especulação imobiliária urbana e trata-se do mesmo
inimigo que está no campo. A comuna, diz Campos, nasceu em São Paulo e hoje se
encontra em várias regiões do país. Aqui no Ceará, a primeira Comuna, 17 de
abril, aconteceu em Fortaleza, no latifúndio da família Montenegro.
A
negociação
Acampadas, as famílias começaram a se organizar, limpar o terreno, construir o barracão coletivo e a medir o espaço de suas barracas. Ao mesmo tempo, a coordenação formada pela Organização Populaar de Aracati - OPA e o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - MST, agilizava as negociações com os governos municipal e estadual. Enquanto isso, receberam por três vezes a visita da polícia militar, inclusive do Major querendo intermediar em favor do suposto dono do terreno. Na tarde de segunda-feira, 04, um canal de negociação foi aberto com o governo do estado, que sinalizou de forma positiva a construção das moradias. Elisângela Gomes, militante do MST, participou da negociação e disse que o secretário das cidades, Ivo Gomes, se comprometeu em incluir as moradias dentro do novo programa Minha Casa minha Vida do governo federal. Também, ainda segundo Elisângela, o secretário se comprometeu com a negociação do terreno.
O
vandalismo do proprietário
Duas horas da manhã do
dia 05 escutam-se os tiros e as redes indo ao chão. Era o proprietário do terreno
com a sua milícia, cerca de 60 homens fortemente armados, colocando as famílias
para fora sem mesmo terem o direito de tirarem os seus pertences. Muita coisa
foi destruída e nos barracos atearam fogo. "Eles chegaram chamando a gente
de vagabundos, torando as cordas da rede e atirando", afirmou dona
Francisca, uma das famílias acampadas. Apavoradas, as famílias ligaram para o
Major, na esperança de encontrarem proteção do Estado, mas, segundo os
organizadores, grande foi a decepção quando chegaram as viaturas, pois
nitidamente ficaram do lado de lá com as armas apontadas para os desabrigados.
A
resistência
Mesmo com a repressão,
as famílias continuaram acampadas na avenida, vendo amanhecer o dia. Às 8h30 da
manhã estava marcada uma audiência com o prefeito de Aracati, Ivan Silvério. Na
audiência, ficou acordado que a prefeitura irá começar o cadastro das famílias
nessa sexta-feira, 08, também garantiu a doação de lonas, água e cestas
básicas. Cantando "essa luta é nossa, essa luta é do povo e só lutando se
constrói um Brasil novo", as famílias saíram em marcha e ocuparam o
terreno que, segundo informações, pertence ao Departamento Estadual de Rodovias
- DER, ao lado do Hospital Municipal Doutor Eduardo Dias. Para Josenilson
Correia, militante da Organização Popular de Aracati, é extraordinária a força
que vem do povo. Ele tem um poder que muitas vezes não sabe que tem. E esse é o
papel das organizações: ajudar o povo a despertar e descobrir esse potencial
para lutar pelos seus direitos, finaliza Correia..
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