Na sala do formador, em
1987, encontrava-se pendurado um quadro com a imagem de um arcebispo que ele
fazia questão de declarar santo. É São Oscar Romero, mártir, dizia. Durante
todo o período de formação, no postulantado, enquanto Mateus fora formador,
Romero fez parte da nossa caminhada, não só um quadro pendurado na parede, mas
sua vida, história e espiritualidade. São Romero da América Latina!
Ao longo desses anos
tive a graça de nutrir minha vocação e missão a partir da experiência de
Romero, pois as Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, onde nasci
vocacionalmente, sempre se nutriram da memória dos mártires da caminhada. O arcebispo
Romero foi assassinado porque teve a
coragem de falar a incômoda verdade, inclusive ordenando aos Estados Unidos que
deixasse de apoiar a repressão do Governo Salvadorenho.
Romero entendeu qual o
seu papel de pastor, sendo capaz de encarnar-se na vida do povo salvadorenho.
Indo na contra-mão, com Jesus, lutando contra o sistema opressor. Para isso
teve que deixar para traz os privilégios e as honrarias que os poderosos
proporcionavam. Preferiu banquetear-se com os pobres a aceitar o banquete de
Herodes. Eles, os pobres, eram para Romero os bem-aventurados."Se denuncio
e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo
oprimido e humilhado", dizia Romero.
A opção de Romero,
claramente em favor dos pobres, não foi bem aceita nem mesmo pela Igreja, que
olhava não como sendo uma opção cristã, mas comunista e marxista. A sua própria
beatificação, agora marcada para 23 de maio de 2015, ficou durante anos sem ser
aprovada, por causa da sua atuação pastoral. Para os papas anteriores, mas
política e social do que cristã. Aos olhos do Papa Francisco, Romero é mártir
pela fé. A fé levou Romero a assumir a causa da justiça social.
Aquele que fora
aplaudido pelas elites ao ser nomeado arcebispo de San Salvador em 1977, foi
assassinado em 1980 por ser considerado subversivo. "Ainda quando nos
chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os
adjetivos que se dirigem a nós, sabemos que não fazemos nada mais do que
anunciar o testemunho subversivo das bem aventuranças, que proclamam
bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem", proclamou
Romero em 1978 em uma de suas homilias.
Para o povo
salvadorenho, para as Comunidades Eclesiais de Base, para os que comungam da
Teologia da Libertação, Romero já é mártir e santo, independente da
oficialização romana. Mas o que fez o Papa Francisco, acredito, a semelhança do
que fez Deus Pai ao ressuscitar o Filho, pelo decreto de beatificação de
Romero, foi desautorizar os grandes e poderosos que o assassinaram. Romero
tinha razão ao dizer: "o Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em
seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte."
Exemplo a ser seguido, com certeza!
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