sábado, 25 de julho de 2015

Comuna Jacinta Souza



*Por Pe. Julio Ferreira, C.Ss.R.

Aos olhos de uma sociedade preconceituosa, ali não passa de um lugar para acoitar vagabundos, marginais, deliquentes, drogados, bandidos, assassinos... e outros adjetivos próprios de quem não procura ou não tem interesse de fazer uma leitura crítica da realidade. Estou me referindo a Comuna Jacinta Souza, este ali que agora faz parte da realidade de Aracati, cidade que fica à 150km de Fortaleza.

Para os que vêm acompanhando a luta dos sem teto, que estão acampados debaixo da lona preta fazem dois meses, com muita luta e resistência, a visão que se tem é bem outra. Trata-se realmente dos que foram colocados a margem por uma sociedade que só pensa em si e que não se importa com a dor e o sofrimento alheio. Uma sociedade que sente pena, mas que não tem compaixão. 

Esse tipo de comportamento me faz lembrar a lição que Jesus dá aos seus discípulos quando estes querem despedir a multidão faminta: "vocês é que têm de lhes dá de comer", disse ele. A atitude de mandar embora é a atitude do sistema capitalista que não se importa com a "massa sobrante", a não ser quando esta lhe pode favorecer. Jesus tem compaixão e ensina como devem proceder aqueles que se consideram discípulos.

A comunidade de Marcos (6, 30-44) relata que Jesus, ao invés de despedir o povo, ensinou como ele deve se organizar. "Então Jesus mandou que todos se sentassem na grama verde, formando grupos. E todos se sentaram formando grupos de cem e de cinquenta pessoas." A partir daí o milagre acontece e todos comem, partilhando o pão e o peixe, e ainda sobra.

Ali, na Comuna Jacinta Souza, se está começando a dar passos nessa direção. Aqueles que a sociedade dispersa estão começando a entender a engrenagem que os colocou nessa situação. E estão se organizando em núcleos, sentando no chão para fazer o milagre acontecer. Um milagre que vem com a luta e a resistência. As pessoas da Comuna já começam a descobrir que a moradia vem, mas que é preciso pressão. Mas o mais importante em tudo isso: estão descobrindo que têm dignidade e que são protagonistas.

Os olhares preconceituosos já não importam, pois sabem que os que assim os olham são os que promovem o banquete de morte, os Herodes e Faraós que querem continuar reinando "às custas de pobres cada vez mais pobres". As lutas, as marchas, as assembleias, as reuniões os animam, pois é assim que acontece o banquete da vida.

* Missionário Redentorista, Jornalista e Membro da OPA.

Um comentário:

  1. Jesus é o cara, peeense. Faz tanto tempo q ensina como a gente deve proceder e tantos se fazem de cegos, surdos e mudos.

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