sexta-feira, 22 de maio de 2015

São Romero da América Latina!



Na sala do formador, em 1987, encontrava-se pendurado um quadro com a imagem de um arcebispo que ele fazia questão de declarar santo. É São Oscar Romero, mártir, dizia. Durante todo o período de formação, no postulantado, enquanto Mateus fora formador, Romero fez parte da nossa caminhada, não só um quadro pendurado na parede, mas sua vida, história e espiritualidade. São Romero da América Latina!

Ao longo desses anos tive a graça de nutrir minha vocação e missão a partir da experiência de Romero, pois as Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, onde nasci vocacionalmente, sempre se nutriram da memória dos mártires da caminhada. O arcebispo Romero foi assassinado porque  teve a coragem de falar a incômoda verdade, inclusive ordenando aos Estados Unidos que deixasse de apoiar a repressão do Governo Salvadorenho. 

Romero entendeu qual o seu papel de pastor, sendo capaz de encarnar-se na vida do povo salvadorenho. Indo na contra-mão, com Jesus, lutando contra o sistema opressor. Para isso teve que deixar para traz os privilégios e as honrarias que os poderosos proporcionavam. Preferiu banquetear-se com os pobres a aceitar o banquete de Herodes. Eles, os pobres, eram para Romero os bem-aventurados."Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado", dizia Romero.

A opção de Romero, claramente em favor dos pobres, não foi bem aceita nem mesmo pela Igreja, que olhava não como sendo uma opção cristã, mas comunista e marxista. A sua própria beatificação, agora marcada para 23 de maio de 2015, ficou durante anos sem ser aprovada, por causa da sua atuação pastoral. Para os papas anteriores, mas política e social do que cristã. Aos olhos do Papa Francisco, Romero é mártir pela fé. A fé levou Romero a assumir a causa da justiça social.

Aquele que fora aplaudido pelas elites ao ser nomeado arcebispo de San Salvador em 1977, foi assassinado em 1980 por ser considerado subversivo. "Ainda quando nos chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os adjetivos que se dirigem a nós, sabemos que não fazemos nada mais do que anunciar o testemunho subversivo das bem aventuranças, que proclamam bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem", proclamou Romero em 1978 em uma de suas homilias.

Para o povo salvadorenho, para as Comunidades Eclesiais de Base, para os que comungam da Teologia da Libertação, Romero já é mártir e santo, independente da oficialização romana. Mas o que fez o Papa Francisco, acredito, a semelhança do que fez Deus Pai ao ressuscitar o Filho, pelo decreto de beatificação de Romero, foi desautorizar os grandes e poderosos que o assassinaram. Romero tinha razão ao dizer: "o Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte."

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