Graças, sobretudo, aos estudos, alguns coreauenses*, assim
como eu, saíram de uma situação de quase miséria para uma vida melhor. Não obstante,
não me entusiasma a meritocracia, despreocupada com as disparidades da vida.
A meritocracia considera em pé de igualdade, p.
ex., aquele sujeito que sempre estudou em colégio particular de renome e aquele
outro, filho de pescador, estudante de escola pública sucateada e que ainda
teve de trabalhar desde cedo para contribuir para o sustento da família.
Nessas condições, é natural que a elite
socioeconômica defenda com ênfase uma meritocracia calcada numa igualdade
meramente formal. É natural que essa elite sinta calafrios ao defrontar a
política de cotas que (ainda) vem sendo implantada no Brasil.
Historicamente, as vagas das ocupações mais
cobiçadas sempre foram quase exclusividade dos filhos da elite. Uma ou outra
exceção perdida somente justificava a regra. Diante desse cenário, destinar uma
reserva de vagas no ensino superior e em concursos públicos para pobres, negros
e índios tem sido ultrajante para a elite, inconformada com a perda de vagas
que naturalmente considerava suas.
Sou uma exceção à regra da meritocracia e não me
ufano por isso. Não poderia, sinceramente, render loas a um sistema cuja regra
acabou eliminando quase todos aqueles que partiram junto comigo. Prefiro
festejar o sistema de cotas, esse importante, – mas obviamente insuficiente –,
passo na direção da justiça social. Prefiro render loas a um sistema que se
preocupa em promover a igualdade substancial, aquela que trata igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades, como
ensinava Aristóteles já na Grécia antiga.
* Coreauense é como se chama a pessoa que nasce
em Coreaú, um pequeno município no sertão cearense.
**Por Eliton Meneses, Defensor Público no estado de Ceará e
poeta.
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