segunda-feira, 24 de abril de 2017

Meritocracia

Graças, sobretudo, aos estudos, alguns coreauenses*, assim como eu, saíram de uma situação de quase miséria para uma vida melhor. Não obstante, não me entusiasma a meritocracia, despreocupada com as disparidades da vida.
A meritocracia considera em pé de igualdade, p. ex., aquele sujeito que sempre estudou em colégio particular de renome e aquele outro, filho de pescador, estudante de escola pública sucateada e que ainda teve de trabalhar desde cedo para contribuir para o sustento da família.
Nessas condições, é natural que a elite socioeconômica defenda com ênfase uma meritocracia calcada numa igualdade meramente formal. É natural que essa elite sinta calafrios ao defrontar a política de cotas que (ainda) vem sendo implantada no Brasil.
Historicamente, as vagas das ocupações mais cobiçadas sempre foram quase exclusividade dos filhos da elite. Uma ou outra exceção perdida somente justificava a regra. Diante desse cenário, destinar uma reserva de vagas no ensino superior e em concursos públicos para pobres, negros e índios tem sido ultrajante para a elite, inconformada com a perda de vagas que naturalmente considerava suas.
Sou uma exceção à regra da meritocracia e não me ufano por isso. Não poderia, sinceramente, render loas a um sistema cuja regra acabou eliminando quase todos aqueles que partiram junto comigo. Prefiro festejar o sistema de cotas, esse importante, – mas obviamente insuficiente –, passo na direção da justiça social. Prefiro render loas a um sistema que se preocupa em promover a igualdade substancial, aquela que trata igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades, como ensinava Aristóteles já na Grécia antiga.
* Coreauense é como se chama a pessoa que nasce em Coreaú, um pequeno município no sertão cearense.

**Por Eliton Meneses, Defensor Público no estado de Ceará e poeta.

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